Fonte: Jornal Classe A 

Sou professor em curso de mestrado em Direito há mais de vinte anos, e tive dezenas de orientandos nesses anos, e sempre lhes perguntei, logo na primeira reunião, se eles eram perfeccionistas.

Em 90% dos casos respondiam que sim.

Em seguida, eu lhes dizia - e ainda digo - que nosso primeiro acordo para que eu aceitasse ser seu orientador, era que o aluno se comprometesse a deixar essa crença longe de sua vida, pois perfeição não existe. O perfeccionista arruína sua vida e a dos que estão à sua volta. Existe uma grande diferença entre perfeição e excelência.

A excelência é fazer o melhor no momento com as ferramentas que você possui no referido momento.

Querer fazer algo perfeito é querer o impossível, pois, como afirmei, perfeição não existe. Só Jesus foi perfeito, e o mataram por ser justamente perfeito.

Ninguém pode se considerar santo, pois a santidade é a perfeição do ser humano no nível máximo; será que eu, você, nossos pais, amigos e outras pessoas que conhecemos podemos chamar verdadeiramente de santo ou santa? O mito da perfeição é uma concepção que se encontra inserida em diversos aspectos da nossa sociedade contemporânea. Trata-se de uma ideia arraigada na mentalidade coletiva, que pressupõe a existência de um padrão ideal a ser alcançado em todos os âmbitos da vida, sejam eles relacionados a aparência física, ao desempenho acadêmico ou profissional, aos relacionamentos interpessoais e até mesmo à busca pela felicidade. No entanto, é imprescindível compreender que o mito da perfeição é justamente isso: um mito.

A perfeição, por sua vez, é algo efêmero e inatingível. Cada indivíduo é único e singular, dotado de suas próprias características, habilidades e limitações. Tentar ser perfeito pode acarretar uma sensação constante de insatisfação e frustração, condenando-se à infelicidade. A imperfeição é uma parte intrínseca da natureza humana, sendo ela a responsável por nos tornar seres únicos e interessantes.

Aceitar e valorizar nossas imperfeições é de suma importância para o nosso desenvolvimento pessoal e emocional. Ao invés de buscar a perfeição, é mais saudável e realista buscar a autenticidade e o crescimento pessoal, buscando a excelência, que, como vimos, é diferente da perfeição. Cometer erros, aprender com eles e buscar incessantemente a melhoria contínua são abordagens mais positivas e construtivas para a nossa jornada de vida. Portanto, é primordial não se deixar seduzir pelo mito da perfeição. Devemos ser compassivos conosco mesmos, aceitar nossas imperfeiçoes e aproveitar plenamente nossa caminhada com todas as suas nuances e desafios. E por meio dessa aceitação e valorização de quem somos que encontramos a verdadeira plenitude e felicidade