Autor: Ruy Martins Altenfelder Silva - Editora Expressão e Cultura - 1988
Prefácio: Miguel Reale
Poder-se-ia dizer que, no concernente aos estudos sobre o valor da conduta humana, o nosso século oferece duas distintas perspectivas, a meu ver complementares, desde que se superem, numa e na outra, certos exageros. Refiro-me a uma visão globalizante dos fatos humanos, nos quadros de sucessivas civilizações, como o fizeram, por exemplo, Spengler, Toynbee ou Teilhard de Chardin, em contraste com a preferência por estudo circunscrito a determinados e particulares campos da experiência, os únicos considerados suscetíveis de conclusões objetivas.
A meu ver, penso que há duas ideias que vêm superar esse antagonismo entre o genérico e o particular: uma é a conveniência de se analisar a sociedade em suas conjunturas, ou seja, à luz do conjunto das circunstâncias operantes em dado espaço-tempo, consoante os ensinamentos de Fernand Braudel; e a outra é a dos paradigmas exemplares, à maneira dos apontados por Thomas Kuhn. A essa luz, fui levado a falar em horizontes de cultura, com referência aos quais os fatos são melhor apreendidos em suas qualidades específicas e em suas relações com o todo.
Daí o meu apreço por livros como este a que Ruy Altenfelder deu o sugestivo título de Cenários de esperança, que se caracteriza pela atenção continuamente dispensada aos fatos político-sociais do País, na última década, procurando situá-los em razão dos interesses gerais da comunidade nacional, sem perder de vista sua conexão com fatos anteriores.
É importante, nas épocas como a nossa, assinalada por mutações bruscas e imprevisíveis, dar atenção aos fatos concretos, sobre os quais emitimos uma opinião provisória, sujeita a correções e complementos à vista de supervenientes ocorrências.
É com esse espírito que, no meu entender, devem ser lidas as análises e as observações que Ruy Altenfelder veio fazendo à margem da experiência brasileira a partir do fim do "sistema militar" até nossos dias, à medida que viemos vencendo as ainda inseguras etapas de nosso desenvolvimento democrático e econômico.
Estudioso convictamente situado no campo das atividades empresariais, nem por isso Ruy deixa de ser um "observador imparcial", pois, se nos aponta aspectos altamente positivos do empresariado paulista, não deixa também de se referir aos negativos, como a falta de assunção plena de seu papel no mundo da produção e da informação.
Ruy é um liberal, mas aberto para a problemática social, que não vê apenas em termos de solidariedade passiva, mas sim em termos de realizações efetivas, ao verificar que o Estado ou ignora o social ou lhe dedica insuficientes cuidados.
Ao lado dessa preocupação, ou em razão dela, talvez se possa concluir que o seu desejo seja o da imersão da empresa no mundo da socialidade e da informação, o que o faz examinar um conjunto de problemas atuais, como o da educação como base primordial do bem-estar social, e o da globalização com seus méritos e deméritos.
Tem o autor do presente livro plena consciência do sentido da economia contemporânea, ao lembrar-nos a advertência de Juan Antonio Giner, da Universidade de Navarra, de que "não serão os grandes que devorarão os pequenos; serão os rápidos que comerão os lentos". E mister, por conseguinte, atuar em consonância com os parâmetros de nosso tempo e com alto sentido de inteireza e de civismo, como se depreende das páginas que se vão ler.
E natural, desse modo, que a compreensão dos assuntos econômico- sociais de Ruy Altenfelder seja completada por permanente interesse pelos problemas políticos e constitucionais, mostrando com razão a crise do Legislativo como causa da pletora de medidas provisórias, tudo em virtude de falta de um definido regime político.
São oportunas, outrossim, suas ponderações sobre outros temas, numa atitude realista que não o faz perder a esperança, por ter sempre presente a lembrança do que podería ter sido feito e não se fez, podendo, porém, ser o resultado do trabalho e do patriotismo de nossa gente.
Introdução: Ruy Martins Altenfelder Silva
Aos 12 anos de idade iniciei minha vida de trabalho, no jornal O São Paulo, dirigido pela competente jornalista Maria Lúcia Sampaio Pinto. Ajudei nos trabalhos administrativos e comecei a participar da redação, escrevendo a folha esportiva. Com o tempo, fui aprendendo e me concentrando na área jornalística, sendo responsável pela criação de concurso para incentivar arbitragens esportivas.
Pelas mãos de Maria Lúcia fui para os jornais A Gazeta e A Gazeta Esportiva, onde desenvolvi coluna diária especializada em assuntos jurídicos ("Atualidades Jurídicas e Forenses").
Anos depois, passei a escrever coluna diária para o Diário de São Paulo ("Notas Jurídicas"), publicada em jornais da cadeia associada durante muitos anos.
Assumindo novas responsabilidades profissionais, deixei de escrever colunas diárias, continuando a colaborar periodicamente para jornais e revistas e participando de programas de rádio e televisão.
Em 1980, apoiei Luís Eulálio de Bueno Vidigal Filho, que venceu as eleições para a Presidência do Sistema FIESP. Nesses dezoito anos, voluntariamente, exerci a Vice-Presidência das entidades e as Diretorias Jurídica, Financeira e Direção Geral do Instituto Roberto Simonsen. Participei também dos trabalhos de seus Conselhos Temáticos Superiores e a Presidência e Vice-Presidência da Comissão de Assuntos Legislativos da Confederação Nacional da Indústria.
Na área empresarial, respondi pela Diretoria de Comunicação do Grupo Santista e do Conselho da Fundação Moinho Santista e sou o responsável pela coordenação do tradicional e maior prêmio de incentivo ao desenvolvimento das Ciências, Letras e Artes do país, o Prêmio Santista.
Desde 1995, voluntariamente presido a Associação Brasileira de Comunicação Empresarial - ABERJE - que tem como objetivo principal aperfeiçoar a Comunicação Empresarial em nosso país.
Procurei manter minha presença na mídia escrevendo artigos e sustentando posições em relação a temas relevantes.
Atendi a sugestão dos amigos da Editora Expressão e Cultura e reuni os principais trabalhos publicados nos últimos anos.
Sou grato aos meus amigos e colaboradores que têm me incentivado a participar da vida comunitária desenvolvendo a Cidadania- Em particular aos Professores Miguel Reale, Celso Lafer, Térdo Sampaio Ferraz Junior, Manoel Gonçalves Ferreira Filho e Jacques Marcovitch, pelas constantes orientações.
À Nídia, sócia e companheira, mãe dos meus filhos, avó dos meus netos, pela compreensão, dedicação e estímulos recebidos.