Autor: Ruy Martins Altenfelder Silva - Coleção CIEE-73
Prefácio: Luiz Gonzaga Bertelli
No artigo que empresta o nome a esta coletânea de reflexões sobre temas de grande atualidade, Ruy Martins Altenfelder Silva questiona o tão decantado desprezo ao princípios éticos na construção de carreiras e na busca de fama, poder e ascensão social. Para o autor, essa tendência não é uma inexorável conseqüência da globalização e da competitividade, como tantos crêem e querem fazer crer. Não há como discordar de sua defesa da ética como o bem maior e mais rentável da sociedade. Partindo do pressuposto de que esse valor é a arte de tomar decisões que convenham à vida dos demais, Ruy Altenfelder conclui que sobrarão recursos no dia em que todos se tornarem éticos.
Também não há como discordar da afirmação de que o desenvolvimento não pode ser mais encarado em termos meramente materiais ou consumistas. Essa percepção se faz sentir forte e intensamente, em especial entre os que se dedicam ao Terceiro Setor, com propostas de trabalho que visam preencher o espaço vazio, uma espécie de terra de ninguém, que se situa entre as esferas de atuação do governo e da iniciativa privada. Hoje, em todo o mundo, contam-se em milhões os ativistas do Terceiro Setor, profissionais e voluntários, que ocupam esse espaço vazio, trabalhando para minorar as grandes carências sociais e os muitos dramas pessoais que ali vicejam e, assim, buscando exercer o papel-cidadão de transformadores da sociedade.
No Brasil, o grande objetivo do Terceiro Setor é construir uma sociedade mais ética, mais justa e mais próspera, consolidando os alicerces que permitam o ingresso num período duradouro de desenvolvimento sustentado, menos vulnerável a crises que têm seu epicentro em outros pontos do planeta. Acreditamos que essa meta não é utópica, mesmo em tempos de acelerada globalização, esse fenômeno que veio para ficar mas que não pode continuar sendo invocado para que os brasileiros não assumam o controle de seu próprio destino. Até porque se multiplicam os exemplos de países que, sem a nossa tradição de adaptabilidade às circunstâncias, conseguiram tirar bom proveito da nova realidade mundial.
A nosso favor, é cada vez maior o número de inconformados com os cenários de pobreza, de ignorância, de marginalidade, de violência, de exclusão e de autodepreciação. São os, voluntários que arregaçam as mangas e dão sua contribuição silenciosa para amenizar as carências em setores nos quais a presença do governo não se faz sentir, embora ali devesse se manifestar. São as entidades filantrópicas, organizadas e profissionalizadas, que atuam como organizações modernas, bem administradas e competentes para gerir os recursos humanos e materiais que agregam, multiplicando resultados positivos. São as empresas que assumem seu papel social nas suas comunidades, convencidas de que sua responsabilidade vai além da simples geração de lucros financeiros. São as várias instâncias de governo que, gradativamente, constatam que são incapazes, sozinhas, de resolver os problemas sociais e descobrem que, se não podem ou não querem ajudar o Terceiro Setor; pelo menos não devem atrapalhar a ação dos que desejam trabalhar pelo bem comum. Pois, como bem lembra Ruy Altenfelder- e repete-se aqui - ética é a arte de tomar decisões que convenham à vida dos demais.
Organização que há quarenta anos se dedica à inserção do estudante no mercado de trabalho por meio do estágio e da oferta de uma rede de serviços voltados à capacitação profissional do jovem, todos gratuitos, o CIEE é um exemplo vivo de que a filantropia não respeita fronteiras quando se trata de bem servir. Na última década, ampliou seu leque de atividades, beneficiando milhares de pessoas que, todos os anos, procuram seus programas de alfabetização de adultos e de qualificação profissional de portadores de deficiências, sem falar na recente campanha antidrogas nas universidades, que coordena.
Para cumprir os objetivos a que se propôs, o CIEE encontra cada vez mais apoio e solidariedade, que podem ser medidos pelo crescente número de parceiros que conquistou ao longo de suas quatro décadas de ação em favor do jovem, seu foco principal. Mais de 120 mil empresas já abriram suas portas para receber 5 milhões de estagiários. Inúmeras instituições somaram seus esforços aos do CIEE, ampliando a capacidade de atendimento que, mesmo assim, fica sempre aquém da demanda: a Igreja Católica, a Ordem dos Advogados do Brasil, o Conselho Regional de Farmácia e vários órgãos públicos, como o Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo, ministérios, dezenas de secretarias estaduais e mais de uma centena de prefeituras.
Essa multiplicação de esforços e os resultados obtidos - sempre é bom insistir - são a melhor prova de que todos ganham quando, movidos pela ética do bem comum, cada um faz sua parte.