Fonte: Poder 360

Mulheres dos governadores sendo eleitas para cargos vitalícios em Tribunais de Contas do Estado é um ato de escárnio

A empresária e primeira-dama de Roraima, Simone Denarium, acaba de ser eleita pelos deputados estaduais para o cargoRoberto Livianu de conselheira do TCE (Tribunal de Contas do Estado), em sessão na Assembleia Legislativa daquele Estado.

No mesmo dia em que foi eleita, na 2ª passada (22.mai.2023), seu marido, o governador Antonio Denarium (PP), exonerou-a do cargo de secretária de Desenvolvimento Humano e Social. Denarium passou o comando do governo de Roraima para o presidente da Assembleia Legislativa, Soldado Sampaio, pois estaria viajando e o vice-governador, Edilson Damião, estava em Brasília.

Ela foi nomeada, portanto, pelo deputado Soldado Sampaio, que é aliado do governo, também no dia 22, quando ele assumiu a condição de governador em exercício. Três dias antes: a viagem de Edilson Damião para Brasília foi publicada no Diário Oficial de 6ª feira, informando que ele estaria fora de Roraima de 22 a 24 de maio, período da eleição e nomeação de Simone.

Em Alagoas, no Piauí e no Pará as mulheres dos governadores também se tornaram recentemente Conselheiras de Tribunais de Contas dos próprios Estados para fiscalizar as administrações dos respectivos maridos.

É escabroso, um verdadeiro ato de escárnio ao povo, como se tivéssemos invertido totalmente a lógica da ética e da moralidade administrativa, como se tivesse se transformado em obviedade o uso do poder visando o autobenefício, a acomodação de interesses particulares, a perda da linha divisória entre o público e o privado. Como se o patrimonialismo fosse um signo moral magistral, e o nepotismo, exemplo máximo de virtude ética.

A repetição dos casos nos anuncia que o comportamento está naturalizado como padrão de conduta diante da impunidade, ante a falta de reação do sistema de justiça, como se inexistissem na Constituição os princípios da moralidade administrativa e da impessoalidade. Como se a conceituação de meritocracia fosse construção utópica.

No caso de Roraima, percebe-se pela linha do tempo registrada que o governador adotou o requinte de se afastar para não ser o responsável formal pelo ato de nomeação propriamente dito, utilizando-se de aliados políticos para tentar manter as aparências, mas a verdade é que isso não muda absolutamente nada –basta ter condição mínima de observar a floresta.

Vale lembrar que no Estado de Roraima que, em 2014, Neudo Campos, ficha suja notório pediu legenda para ser candidato a governador indevidamente ao partido político e obteve, sendo barrado a poucos dias do pleito pela Justiça Eleitoral, indicando para assumir a candidatura sua mulher, Suely Campos. Mesmo expediente utilizado naquelas eleições por José Riva no Mato Grosso e José Roberto Arruda no Distrito Federal, como se os eleitores fossem massa manipulável de acordo com conveniências.

Em Mato Grosso e no Distrito Federal, a artimanha não funcionou, mas no caso de Roraima, Suely Campos foi eleita governadora e na 1ª semana de governo, nomeou 19 parentes para ocupar cargos de confiança.

Passados 9 anos, no mesmo Estado de Roraima, o governador agracia sua mulher com o cargo vitalício de Conselheira de Tribunal de Contas, como se esse procedimento fosse algo legítimo e aceitável, como vem sendo repetido à exaustão o elogio ao nepotismo, como fez o ex-líder do Governo na Câmara Ricardo Barros (PP-PR) em diversos discursos e entrevistas.

Por ocasião dos debates na Câmara que resultaram na aprovação da Lei 14.230/21, pretendia-se tornar lícita a contratação de parentes, deixando de incidir a lei de improbidade, tendo-se revertido isto no último momento por ter havido muita insistência e presença atenta da imprensa em plenário. Mas por muito pouco não se chega a esse ponto extremo.

Tem-se a nítida sensação da total e absoluta perda do decoro, do pudor, da perda de limites, tendo em vista que a impunidade impera, inclusive garantida por diversos dispositivos legais, como, por exemplo, a própria Lei 14.230/21, que afrouxou de forma extrema a proteção do patrimônio público.

O senador em cujas nádegas foram encontrados R$ 33.000,00, por exemplo, participa sem qualquer constrangimento das sessões, diante da imagem de Ruy Barbosa, como se nada tivesse feito –nenhuma punição sofreu na Comissão de Ética. A estratégia sistematicamente utilizada é simplesmente esperar calmamente a poeira baixar até vir à tona o próximo escândalo.