(Correio Braziliense)
No dia 13 de maio de 2016, aos 88 anos de idade, morreu o Professor William Saad Hossne, conhecido por seu trabalho e militância na bioética, campo transdisciplinar que reúne a biologia, as ciências da saúde, a filosofia e o direito, e estuda a dimensão ética dos modos de tratar a vida humana e animal, no contexto da pesquisa científica e suas aplicações.
Como ensinou o Mestre, cada salto da ciência cria problemas éticos, que não podem ser resolvidos só por cientistas de uma área. É necessário chamar as outras disciplinas, sobretudo as humanas – sociologia, filosofia – para criar um balizamento ético. Se não tomarmos esse cuidado, a sociedade pode se autodestruir. Surgiu assim a bioética.
William Saad Hossne, foi médico e professor titular emérito da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista. Membro do Comitê Internacional de Bioética da UNESCO, do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde e coordenador dos cursos de Mestrado e Doutorado em Bioética do Centro Universitário São Camilo, São Paulo.
A excelente Revista Pesquisa FAPESP dedicou ao Professor matéria especial com o título “O Guardião da Bioética”.
Pela importância da sua obra o Centro de Integração Empresa Escola – CIEE, como tem feito anualmente desde 1997 decidiu conferir-lhe o título de Professor Emérito e homenageá-lo com o troféu Guerreiro da Educação Ruy Mesquita.
Em artigo publicado no número 29 da Coleção Bios y Ethos, - Bioetica en tiempo de Incertidumbres, o Prof. Hossne diz que no seu modo de ver, no século XX aconteceram pelo menos cinco revoluções: a ATÔMICA, a MOLECULAR, a das COMUNICAÇÔES, a do ESPAÇO SIDERAL e a da NANOTECNOLOGIA, e a que se anuncia como eventual nova revolução: é a revolução resultante da integração das cinco citadas, atuando em conjunto, interatuando entre si em escala exponencial.
A ciência e a técnica estarão intimamente associadas (tecnociencia); a ciência exercendo influência na tecnologia e a tecnologia na ciência, potencializando-se ambas.
A ética da sexta revolução nascerá com algumas características herdadas da bioética.
A Bioética implica em opção de valores e como toda ética, a opção de valores somente acontecerá se houver liberdade de opção.
Assim, qualquer mecanismo, processo, instrumento ou condição que possa inibir a liberdade de opção é incompatível com a Bioética. Coação, coerção, sedução, exploração, manipulação, são fraudes incompatíveis com o exercício ético.
O exercício da Bioética, ensinou Hossne, exige além da liberdade, condições na resolução de conflitos: humildade; grandeza; prudência e solidariedade.
A Ética implica sempre na opção de valores. Esse processo de opção possivelmente supera a capacidade da máquina inteligente.
A Bioética coloca em interação não somente a filosofia, mas também todas as ciências humanas e exatas, não só a medicina, como também todas as ciências da saúde e todas as ciências biológicas, como sucedeu há séculos com a filosofia e a medicina. No final do trabalho científico citado o professor conclui:
“O que faremos com tanto poder? Ou melhor, o que faremos nós mesmos? Inclusive porque, como já ensinava Hobsbawm (2002) em seu livro “tempos interessantes”: ‘[...] o mundo não vai melhorar sozinho’.
O que nós vamos fazer?
Continuemos ‘ilosofando’, preservar sempre a liberdade de opção de valores (vale dizer reflexão ética), calcada em todos os referenciais da Bioética e, no caso, em especial na prudência (‘phronesis y sophrosyne’), na responsabilidade e na autêntica solidariedade e na dignidade.
Hume (1999), com respeito ao entendimento humano, já disse: ‘Não se preocupem, a ciência continua, o sol nascerá amanhã, a água continuará saciando a sede. O único que temos que confessar é que não podemos ter certezs e que tão pouco sabemos porque as coisas são assim”.
Vivemos um momento importante em nosso país, em que a ética ganha papel de destaque na comunidade.
Vale lembrar lição do saudoso Papa João XXII:
A justiça se defende com a razão e não com as armas. Não se perde nada com a Paz, e pode-se perder tudo com a guerra.
A saudade é a presença da ausência. O Professor William Saad Hossne estará sempre presente entre nós.