(Correio Braziliense)

A mulher do século 21 é aquela que busca compaginar em sua vida a vocação familiar com a vocação profissional, equação nem sempre fácil de equilibrar. A dificuldade advém da forma como se encaram os termos da equação, como se a fórmula fosse de equilíbrio isonômico entre as duas vocações, pelo tempo de dedicação e importância das missões.

Lembrando do título da clássica obra de Ernest Hemingway, podemos nos perguntar “por quem os sinos dobram” no trabalho, e o natural é responder que batem pelos nossos amores. O trabalho, além de um serviço à sociedade, é a fonte de sustento da família e, portanto, motivo de realização pessoal e familiar de quem trabalha. O pensamento voa para aqueles a quem amamos quando trabalhamos, como o sentido e fim de nossos esforços. Daí que, na equação, a prioridade parece pender naturalmente para o lado familiar.

Que significa isso? Que o segredo da realização pessoal da mulher do século 21, como também do próprio homem na vida profissional, está em reconhecer e priorizar a família, nos casos de conflito de exigências. Não há sucesso profissional que compense um fracasso familiar, por se priorizar o trabalho em detrimento da família.

O modelo familiar do século 21 supõe o compartilhamento de responsabilidades, em que marido e mulher decidem o que é melhor para a família. Já não existe a vontade do homem prevalecendo sobre a da mulher ou vice-versa, mas uma terceira vontade, a da família, o que mais convém a ela. Daí decidirem os cônjuges que trabalho um ou outro assumem e em que condições.

Se, por um lado, o trabalho da mulher no próprio lar é tão relevante que a Alemanha contabiliza no seu PIB esse trabalho, por outro, a realização profissional da mulher só é possível pelo compartilhamento de responsabilidades, com marido e mulher assumindo de forma isonômica as tarefas de manutenção do lar e atenção aos filhos.

Mas, se fôssemos mais a fundo, perguntando “por quem os sinos dobram” na família, descobriremos que eles dobram pela mulher e mãe, centro e coração da família. Nisso, o século 21 não se diferencia de nenhum período da história humana: a mulher sempre foi e será a rainha e o esteio da família. E o homem que não tem isso claro implode de plano qualquer esperança de felicidade conjugal e até de sucesso profissional. Daí também que se cerque a mulher, especialmente pela sua condição de mãe e trabalhadora, de todas as garantias e proteções que a maternidade exige.

Se o excesso de protecionismo pode eventualmente comprometer o mercado de trabalho da mulher, o equilíbrio nas garantias, tratando desigualmente os desiguais na medida das suas desigualdades, promove uma sociedade mais próspera, uma vez que seus novos membros serão gerados em famílias em que imperou o amor e a atenção aos filhos.

Ao se comemorar o Dia das Mães, essas reflexões são oportunas para não se esquecer do valor da maternidade para uma sociedade sadia e que todos os cuidados que se têm com a mulher, em sua dimensão de mãe e trabalhadora, representam ganho para a sociedade. A igualdade intelectual entre homens e mulheres não afasta a desigualdade fisiológica, a exigir tratamento diferenciado em termos laborais e previdenciários, dado o maior desgaste da mulher gestante e mãe de família, por mais que o homem colabore na divisão de tarefas.

Em suma, numa hierarquia de valores, a família precede ao trabalho, ao tempo em que a mãe, como centro em torno do qual gira a família, merece o tratamento diferenciado próprio da correspondência do amor, pela dedicação generosa da mulher à família.

Para encerrar estas reflexões e retirá-las da abstração, não posso deixar de evocar o exemplo de minha própria família. Emociona-me ligar para meus pais, hoje com mais de 80 anos, e ouvir de meu pai a pergunta: “Quer falar com sua mãe, que está aqui do meu lado, cada dia mais linda?” Esse amor, que foi sempre o sentido do trabalho de meu pai, junto com o serviço a Deus e ao próximo, materializou-se também na opção profissional que seguiu.

Sendo presidente de diretório local de partido político antes da revolução de 1964, abandonou a política depois dessa data, não só ou principalmente pela decepção, mas por um apelo da esposa. E não se arrependeu ao se tornar apenas advogado, além de professor. Percebeu que a família valia mais do que o trabalho. E que a mulher — colega de faculdade e sócia de escritório — valia mais do que qualquer cargo.