O fracasso do sistema comunista em todos os países em que foi implantado deveria corresponder ao abandono da doutrina que o inspirou, vale dizer, o Marxismo. E no entanto essa doutrina se mantém viva e conta com fervorosos adeptos, que a defendem contra todas as evidências fornecidas pela realidade.
Poder-se-ia objetar que se o Comunismo fracassou na Rússia e nos países que tiveram por modelo a União Soviética, ele foi bem sucedido na China, país que deixou de banda o subdesenvolvimento, para ostentar hoje o “status” de potência mundial. Ora, o Comunismo deu certo na China, porque deixou de ser Comunismo... com efeito, foi depois de o regime de Pequim admitir a livre iniciativa na Economia, e permitir a propriedade dos meios de produção, que a sociedade chinesa passou a evoluir. Diria que o sistema chinês atual é um “Nacional-Confucionismo”...
Se o exemplo chinês não serve para explicar a sobrevivência do Marxismo, é preciso cogitar de outras motivações para ela. E tais motivações se encontram em primeiro lugar, no campo religioso.
Foi Heraldo Barbuy o autor que demonstrou, no Brasil, que o Marxismo não é uma doutrina filosófica, nem um sistema econômico, nem uma ideologia, sendo ao revés uma religião. Religião ateia e materialista, sem duvida, mas de qualquer maneira uma religião e, mais especificamente, uma contrafação do Cristianismo.
Como religião, o Marxismo se baseia em dogmas. E o mais importante deles é o do primado dos fatores econômicos sobre todos os outros. A Economia é a “infraestrutura” que determina as “superestruturas.” Ora, o primado do econômico não é passível de qualquer demonstração racional. Ele é um dogma, e como tal, não pode ser discutido... Eu dei alguns desenvolvimentos à tese de Heraldo Barbuy. O túmulo de Lenin, em que o seu cadáver é mantido embalsamado, é uma imitação do Santo Sepulcro de Jerusalém... Cristo ressuscitou. E Lenin é conservado. Os retratos de Marx, Engels e Lenin, nas concentrações do regime comunista, lembravam os ícones da Igreja Ortodoxa Russa... e o nome do jornal do Partido Comunista era “Pravda”, palavra russa que significa “Verdade”!... tudo isto rescende a religião. Trata-se de uma religião “sui generis.” Nela, o “voto do pobreza” não é feito pelo “clero”, vale dizer, pela burocracia do Partido, mas sim pelos “fiéis”, ou seja, pelo povo... os venezuelanos e cubanos que o digam...
Sem dúvida, o apelo religioso é o principal fundamento da sobrevivência do Marxismo. Este, além de ser uma doutrina “reducionista” como outras doutrinas do século XIX (Positivismo e Evolucionismo), é “redencionista”, na medida em que acena com a felicidade do gênero humano, depois que as classes sociais e as fronteiras nacionais forem abolidas... já foi dito que Cristo foi mais realista do que Marx. Ele prometeu o paraíso no outro mundo, e Marx o prometeu aqui na Terra!...
Se o fator religioso atua poderosamente para a sobrevivência da doutrina de Marx, ele não é o único. É preciso levar em conta que o Marxismo é uma doutrina muito fácil de ser pregada: É com efeito cômodo defender a divisão dos bens... dos outros...
Além disto, trata-se de uma doutrina não apenas simples, mas até simplista. E assim, pode ser assimilada por quaisquer pessoas, inda que notoriamente pouco inteligentes. Exemplifico com uma determinada terrorista disléxica e que não consegue construir uma frase completa, com sujeito, verbo e predicado. Até ela conseguiu assimilar a doutrina de Marx... Por derradeiro, o Marxismo é uma doutrina adequada para quem quer parecer “intelectual”, ainda que não tenha jamais aberto um livro na vida. O proclamar-se o indivíduo --- por apedeuta que seja ---“marxista” ou “de esquerda” lhe confere um tipo de “indulgência ideológica”, que o dispensa de qualquer avaliação séria... vira de imediato “intelectual”!...
*Acacio Vaz de Lima Filho, Livre-Docente em Direito Civil, área de História do Direito pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, é acadêmico perpétuo da Academia Paulista de Letras Jurídicas