Escrevem-me os meus correspondentes da Alemanha; correspondentes cultos, como é óbvio, e todos eles estudiosos da História. O Professor Siegfried Von Troglow Und Cabraleistein, um ilustre historiador, arqueólogo e papirologista da Universidade de Heildelberg, além do mais um estudioso emérito dos primórdios do Cristianismo, após exaustivas escavações que duraram uma década descobriu, nas cercanias de Damasco, na Síria um documento que pode afetar profundamente os dogmas da Igreja Católica, Apostólica, Romana.
O documento em pauta é um evangelho da lavra de Tomé, um dos discípulos de Nosso Senhor Jesus Cristo, e está redigido em uma versão bilíngue, vale dizer, em Aramaico e no Grego Vulgar conhecido como “Koinê.” O texto em Grego é compreensível, à luz do dado de que o Cristianismo surgiu na “Pars Orientalis” do Império Romano, região em que, graças à obra de Alexandre, O Grande, era o idioma de Homero, ao tempo da vinda do Cristo, uma língua veicular entre os diversos povos.
Com base na carta que me foi enviada pelo amigo Von Troglow, busco fazer um resumo das revelações. Dou a palavra, pois, ao próprio Evangelista Tomé, ao relatar a célebre passagem da instituição do Papado: --- “E disse Jesus a Simão: Simão, tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja. O que ligardes na Terra estará ligado no Céu. O que desligardes na Terra, estará desligado no Céu.” Acrescentou Jesus: --- “E as portas do Inferno não prevalecerão contra a Igreja que ora fundo!...”
Como vemos facilmente, até aqui, o Evangelho de Tomé, descoberto pelo erudito alemão, repete em linhas gerais os quatro evangelhos até hoje conhecidos: O de Mateus, o de Marcos, o de Lucas e o de João, este último, levemente diverso dos outros três por começar com a frase: --- “No princípio era o Verbo!...”
A novidade, diria eu, a grande novidade das descobertas do arqueólogo, vem a seguir: --- “E sucedeu que, depois de dispersados os discípulos, Jesus chamou de parte Simão Pedro e lhe disse: --- “Pedro, agora ‘in off’ como dizem lá na Britânia, SE um dia aparecer na Igreja que acabo de fundar um certo João XXIII e convocar um tal de “Concílio Ecumênico Vaticano II”, SE, depois disto, comunistas infiltrados em minha Santa Igreja criarem uma tal de Teologia da Libertação, que ‘en passant’ não é nem ‘teologia’, nem ‘da libertação’, e sobretudo --- ó Pedro! --- SE um dia um cafajeste argentino indigno do sacerdócio ocupar o lugar que eu acabo de destinar a você, negando dogmas, participando de cerimônias pagãs e prestigiando ditadores sanguinários, então, Pedro... sinto muito, mas eu não poderei fazer mais nada!... fale com o meu Pai que está nos Céus. Talvez ele tenha uma solução!...”
Termina aqui o texto que, como é óbvio, foi enviado, depois de acurada análise, para a Chefia da Igreja, em Roma. O “Osservatore Romano” ao falar da matéria, limitou-se a uma curta nota da Congregação para a Defesa da Fé: --- “Trata-se de uma narrativa neo-nazista, neo-fascista, supremacista branca, racista e homofóbica, que agride as minorias, estimula o ódio, incita à violência, e deve merecer o repúdio dos verdadeiros católicos.”
*Acacio Vaz de Lima Filho, advogado e professor universitário, é Livre-Docente em Direito Civil, área de História do Direito, pela Academia do Largo de São Francisco. É autor dos livros “O Poder Na Antiguidade – Aspectos Históricos E Jurídicos”, “As Constituições Imperiais Como Fonte Do Direito Romano”, “A Censura: Magistratura Moral De República Romana” e “Horizontes Da Historia E Do Direito – Estudos Em Memória Do Professor Miguel Reale”