Meu artigo intitulado “A Universidade: uma reflexão oportuna”, foi publicado no “Boletim Do Historiador” nº 4 de 2020. Nele, tendo feito remissão à tão combatida quanto desconhecida Idade Média, afirmei que a instituição universitária, no Medievo, caracterizava-se pela autonomia e pela busca do saber pelo saber, daí resultando a formação de elites pensantes. Aduzi que um dos corolários da busca do saber pelo saber era o pluralismo das ideias, consentâneo com o próprio nome “Universidade”... por outras palavras, no espaço universitário as ideias opostas tem que, necessariamente, conviver.
Este último ponto é o ora abordado nestes comentários. A Universidade no Brasil, e em especial a Universidade Pública, tem sido vitimada pelas patrulhas ideológicas da esquerda. Se tais patrulhas são mais visíveis na área das ciências humanas, isto não significa que não estejam presentes na área das exatas. E no exame deste assunto é preciso não esquecer que, sendo o Marxismo uma religião, como o demonstrou Heraldo Barbuy, o patrulhamento ideológico exercido pelos seus adeptos é levado a cabo com um fervor religioso... o fervor religioso a que aludo teve a oportunidade de se manifestar, em toda a sua intensidade, na excomunhão “Urbi” et “Orbi” que, há algum tempo, Dona Marilena Chauí lançou contra toda a classe média. Integrando tal classe, sou um dos excomungados pela biliosa sacerdotisa do P.T. E tenho o consolo de estar na companhia de alguns ilustres excomungados. Sócrates, que como soldado se equipava como um hoplita, integrava a classe media de Atenas. E René Descartes, um modesto Oficial de Cavalaria, também fazia parte de tal classe...
Segundo Vieira, “Frei Exemplo é o melhor pregador.” Vou me valer de dois exemplos, para demonstrar a existência do patrulhamento ideológico na Universidade Brasileira.
Em 1974, derrubado o regime salazarista em Portugal, o Professor Marcello Caetano, que fora o Presidente do Conselho de Ministros do governo deposto, exilou-se no Brasil, e manifestou o desejo de lecionar na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Ele era quiçá a maior autoridade do mundo em Direito Administrativo, sendo ainda um penalista de escol e o autor de uma excelente História do Direito Português. A pretensão do jurista lusitano foi rejeitada, com veemência, por alguns esquerdistas da Congregação da Faculdade, ao argumento de que “nenhum fascista iria lecionar ali.” Marcello Caetano foi para o Rio de Janeiro. A Universidade Gama Filho o recebeu de braços abertos. E ele doou os trinta mil volumes da sua biblioteca à universidade que o acolheu. A burrice é um artigo caro...
No segundo exemplo, eu próprio estive envolvido. Em Maio de 2013, fiz o concurso de Livre-Docência em Direito Civil, área de História do Direito, na Faculdade de Direito de São Paulo. Um dos examinadores foi o Professor Francisco dos Santos Amaral Neto, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. E, na arguição do meu memorial, este professor afirmou que eu “tinha um perfil muito conservador para professor de Direito.” Por outras palavras: Para este senhor, não importava a qualidade da minha tese. Importavam, sim, as minhas convicções políticas!... ora, isto configura a “Anti-Universidade”, se assim posso me expressar!... em tempo, obtive o meu titulo de livre-docente, sem embargo do “pecado ideológico” em que incorrera...
É evidente que ao se usar a ideologia como critério seletivo dos candidatos, se diz adeus à meritocracia. Além do mais, a doutrina marxista, “in se ipsa”, constitui um entrave metodológico para a pesquisa científica. Explico-me: Como um marxista tem que abraçar o dogma do primado do fator econômico sobre todos os demais, na análise de qualquer problema, tudo o que contrariar tal dogma fica, necessariamente, fora do seu campo de análise... ora, se a doutrina marxista implica em um dano epistemológico, ela é prejudicial à Universidade, inseparável, desde o seu berço medieval, da mais ampla liberdade de investigação!...