Noticiou o jornal “O Estado de São Paulo” em sua edição de 1º de Março próximo passado, à página A-8, que o Curso de Graduação em Ciências Políticas da Universidade de Brasília (Unb) passou a oferecer uma disciplina intitulada “O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil.” Ainda segundo a mesma fonte, a disciplina em tela, orientada pelo Professor Luiz Felipe Miguel se propõe a analisar a “agenda de retrocesso” durante o governo do Presidente Michel Temer e os “elementos de fragilidade” do sistema político brasileiro, que “depuseram a presidente Dilma Rousseff.”
Ainda de acordo com a matéria veiculada por “O Estado de São Paulo”, ao menos outras quatro instituições universitárias confirmaram que, na esteira da Universidade de Brasília, vão oferecer cursos do mesmo teor: A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Universidade Federal da Bahia (UFBA), a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e a Universidade Federal do Amazonas ((Ufam). No momento em que escrevo estes comentários, algumas outras instituições universitárias do Brasil ainda cogitam se vão seguir, ou não, a iniciativa da Universidade Federal de Brasília.
Penso que criar uma disciplina cujo nome é um juízo de valor sobre um acontecimento recente da História do Brasil, é uma atitude que agride a própria noção de “Universidade.” “Universidade” é uma palavra que se liga a “Universal”. E é “universal” o que representa a unidade no todo (Unum versus alia). Isto significa que a ideia de pluralidade de opiniões, e pois a de tolerância para com as opiniões contrárias, são coisas ínsitas na própria concepção de Universidade!...
A Universidade nasceu na Idade Média, tão injustamente caluniada por Michelet, e, mais especificamente, em Bolonha, na Itália. Ela era uma corporação de professores e de estudantes, que se reuniam movidos por um interesse básico: o Saber. E dois fatores fizeram a grandeza da Universidade, ao longo dos séculos: A autonomia administrativa, e inclusive ideológica, e o compromisso com o Saber pelo Saber. Estes dois atributos desapareceram da Universidade Brasileira, há muito tempo... ela tem sido uma reles caixa de ressonância da propaganda marxista, e isto, há várias décadas.
É atribuída ao Padre Antonio Vieira, S.J., um dos grandes mestres do vernáculo, e um célebre orador sacro, a seguinte frase: --- “Frei Exemplo é o melhor pregador.” Pois bem, em meu concurso de Livre-Docência na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, um dos examinadores, o ilustre Professor Titular Francisco dos Santos Amaral Neto, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, disse-me (e isto foi ouvido por todos os que assistiam ao concurso) que eu “tinha um perfil conservador demais para professor de Direito” (!!!). Levado o “raciocínio” de Sua Excelência às últimas consequências, eu deveria ter me filiado a uma organização trotskista, ANTES de disputar o título de Livre-Docente!...
Se o P.T. e outros partidos ditos “de esquerda”, o MST, o MTST e outros “movimentos sociais” (leia-se “organizações paramilitares comunistas”) fizerem um seminário, um ciclo de estudos, um debate contra o “Impeachment” de Dilma Rousseff, isto será normal. Tratar do “Impeachment” de Dilma em um evento deste tipo, seria tão legítimo quanto, “verbi gratia”, reunir estudiosos para tratar do suicício do Presidente Vargas, em 1954. Mas, disfarçar a doutrinação ideológica com a criação de uma “disciplina científica”, é desonestidade intelectual antes de mais nada. É insultar a Universidade, que tem mais de mil anos de serviços prestados à sociedade. E é, ademais, usar o suado dinheiro dos contribuintes, para fazer, em universidades públicas, a propaganda de um sistema político que, longe de constituir a “libertação” dos trabalhadores, é a sua escravização. E que, prometendo uma sociedade paradisíaca, criou os infernos da União Soviética, de Cuba, dos “Gulags” e assim por diante...
*Acacio Vaz de Lima Filho, advogado e professor universitário, é Livre Docente em Direito Civil, área de História do Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, sócio titular do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, Acadêmico Perpétuo da Academia Paulista de Letras Jurídicas, Conselheiro do Instituto dos Advogados de São Paulo e membro da União dos Juristas Católicos de São Paulo