(Correio Braziliense, 21/03/2018)
Entender o funcionamento da sociedade, no mesmo instante em que ele se manifesta, exige não apenas a agilidade da observação em tempo real. Merece também reflexão que descerre camadas mais sutis de verdade, em que pulsam fatos desafiadores da nossa capacidade de análise. Essa dupla identidade, que alterna reportagem e tese, visão ousada e posição prudente, é fruto da responsabilidade diante da missão de revelar e interpretar os acontecimentos contemporâneos. Composto dessas funções complementares, que aliam rapidez e paciência, o diagnóstico da realidade é o objetivo tanto de uma redação quanto de um organismo cultural, como o Conselho Superior de Estudos Avançados (IRS-Fiesp).
Guardadas as devidas diferenças, o que nos identifica é a necessidade de detectar as tendências geradas pela nação e divulgar os impactos que iluminam suas rotinas numa sucessão cada vez mais frequente de graves problemas. Isso acontece depois do longo silêncio a que o Brasil foi condenado, de um período em que muitas prioridades foram manipuladas. Por notarmos que esse pragmatismo foi apenas mais uma ilusão inoculada no tecido social, acabamos nos transformando em estagiários da realidade.
Hoje, a experiência ajuda, mas a pressa que o país demonstra em exibir suas fraquezas coloca grupos diversos no mesmo estágio de entendimento. É importante, pois, aproveitar essa ocasião privilegiada e eliminar a postura de ascendência que porventura possa ser criada pelo descompasso de vivências ou níveis de atividade. Em matéria de conhecimento, somos todos iguais perante o Brasil surpreendentemente desnudado.
Assim como a imprensa cerrou fileiras junto com a CPI do Orçamento para extirpar o desvio gigantesco de verbas, as entidades da indústria continuaram sua cruzada a favor da racionalidade nas finanças da nação, princípio que rege qualquer relacionamento saudável entre governo e sociedade. O setor produtivo estava certo ao denunciar as gorduras do Orçamento na época em que, também com a imprensa, atacava o absurdo do IPMF, por acreditar que o caminho do desenvolvimento não passa pela punição ao sistema produtivo.
Muitas vezes, a obrigatória função de liderança que os empresários industriais precisaram tomar para implantar no país uma realidade que contrariava a vocação agrícola e colonial, cristalizou-se em hábitos de origem que apontavam para decisões a portas fechadas. Mas a própria complexidade social, os desafios da modernidade, as novas gerações empresariais, os revolucionários métodos de gestão, a exemplo de segmentos mobilizados pela abertura democrática e a luta pela instauração de novas relações entre capital e trabalho, fizeram com que os métodos fossem reavaliados.
Empresário é sinônimo de dinamismo e mudança. A verdade é que os empresários saíram da casca e diversificaram seu espectro de representatividade. A grande massa de micro, pequenas e médias empresas, que abrem novas frentes de emprego e geração de riquezas, está hoje visível e atuante, fazendo parte do pensamento vivo da nação, tomando posições a favor do pluralismo democrático e da liberdade de mercado. As propostas refletem os anseios gerais da sociedade a favor da revisão do papel do Estado, que deve centrar seus esforços e recursos no provimento das necessidades sociais básicas.
Um novo pacto federativo que distribua melhor as competências da União, estados e municípios, racionalizando serviços e responsabilidades, é outro princípio geral relevante. Outra preocupação é a redução da intervenção do Estado na economia, para evitar os sucessivos planos catastróficos que nos obrigaram a uma sofisticada estratégia de sobrevivência. As médias, somadas às já consagradas conquistas socais dos trabalhadores, ajudarão o país a ingressar no caminho do desenvolvimento sustentado. O Conselho Superior de Estudos Avançados (IRS-Fiesp) é o fórum para onde confluem esses debates. Vamos repensar Brasil!