A celebração do Dia da Mulher é sempre uma ocasião de reflexão sobre o seu papel e o motivo pelo qual ela é destacada. De fato, não há o dia do homem. Há uma diferença antropológica natural, ainda que o homem e a mulher gozem dá igualdade de direitos e oportunidades devida a cada ser humano.
Pensando no que queria compartilhar em torno desse dia, deparei me com um texto de Fulton Sheen, filósofo norte-americano muito profundo, mas prático, que, embora longo, gostaria de transcrever: “Imagine uma orquestra no palco diante de um maestro famoso que regerá uma linda sinfonia composta por ele mesmo. Cada membro da orquestra é livre para seguir o maestro e assim contribuir para a harmonia. Mas cada membro é também livre para desobedecer ao maestro. Suponha que algum dos músicos deliberadamente toque uma nota falsa e induza a violinista ao lado a fazer o mesmo.
Ouvindo o desafino, o maestro poderia seguir duas alternativas: levantar a batuta e ordenar que recomeçassem a tocar ou ignorar o acorde destoante. De qualquer forma, sua atitude não faria nenhuma diferença visto que aquele acorde já foi para o espaço atingindo uma altura de mil e cem pés por segundo, seguindo adiante e afetando a infinitesimal pequena radiação do universo. Como uma pedra caída no lago causa uma ondulação que afeta a mais distante zona costeira, esse acorde afeta até mesmo as estrelas...Em algum lugar neste universo de Deus soará essa desarmonia”. Como a Filosofia deseja estudar o mais profundo do ser, é óbvio que deve abrir-se à realidade tal como é intrinsecamente - the way things are como expressa o jusfilósofo Lon Fuller. Nesse sentido, li também recentemente uma narrativa em um periódico australiano que contava a história em quadrinhos de um pato que quis fazer uma operação para tornar-se ganso...
Partindo desses exemplos gráficos como inspiração, pensava em como a sociedade poderia ser se a mulher vivesse como tal; fosse respeitada como tal; amada como tal; vivesse seu destino antropológico maternal como tal; se lhe fosse totalmente permitida a prestação de sua original contribuição profissional em harmônica somatória de luzes; se se fizesse valer pelo que é, sem comparações e oposições, mas sim pela afirmação e maximização de sua unicidade feminina, ou seja, se cada mulher se decide a viver com profundidade seu papel na sinfonia, sendo simplesmente e totalmente mulher e trazendo sonora harmonia a toda sociedade por meio de sua contribuição única... Utopia? Definitivamente não, já que a força da natureza - a força do ser! - é infinitamente maior do que a do não ser. Parabenizo, portanto, a cada mulher por suas lutas positivas, convidando também a cada uma, e também a toda comunidade masculina, a refletir em como vivem - identidade -, e oferecem o espaço - reconhecimento - para que cada mulher seja cultivada e possa se realizar plenamente como tal, de forma que seus acordes harmonizem novamente a sociedade, ecoando perenemente através do espaço e dos tempos.
Angela Vldal Gandra Martins é Doutora em Filosofia do Direito (UFRGS) / Sócia Advocacia Gandra Martins / Membro da Academia Brasileira de Filosofia e Academia Paulista de Letras Jurídicas