Fonte: Estadão/Opinião/Colunas
Estamos há poucas semanas de receber no País milhares de representantes da ONU, cientistas, acadêmicos, líderes empresariais, organizações da sociedade civil e ativistas ambientais para o que é considerado o maior e mais importante evento global para discutir e negociar ações contra a emergência climática, a COP-30. Os debates, acordos e compromissos firmados de redução de emissões e adaptações aos impactos climáticos serão — ou pelo menos deveriam ser — baseados em evidências científicas.
Sem a ciência, sem os pesquisadores, não conseguiremos superar esse, que é o maior desafio desta geração.
O avanço científico é fundamental para o desenvolvimento de nossa sociedade. Sem ele, não teríamos superado a pandemia de covid-19, nem teríamos inovado a nossa indústria e, muito menos, alcançado a produção de toneladas e toneladas — que crescem a cada ano — de alimentos e matérias-primas, produtos responsáveis por alimentar a população e gerar riquezas para o País.
Apesar de a tradição de diversas instituições brasileiras de pesquisa e do trabalho incansável de milhares de pesquisadores, nossa população ainda pouco conhece e, consequentemente, não reconhece a importância desses resultados. A pesquisa Percepção pública da C&T no Brasil 2023, lançada pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em 2024, mostra que, apesar do amplo interesse da população pelo tema (60,3% dos entrevistados), apenas 18% desses sabem indicar o nome de alguma instituição científica no País e pouco mais de 9% se recordam do nome de algum cientista brasileiro. Os índices, é verdade, aumentaram depois da pandemia de covid-19, mas ainda são tímidos perante a potência do Brasil nesta área.
Prestigiar a ciência e seus pesquisadores significa lançar luz em estudos valiosos que ajudam a combater fake news, melhorar a educação e a cultura da população e alertar sobre os problemas sociais. Significa também contribuir para que a população admire nossas instituições e a classe científica, cobre mais recursos públicos e privados para o desenvolvimento dessa atividade e se inspire em seguir este legado acadêmico.
As premiações na área são um bom exemplo de iniciativas que ajudam neste reconhecimento. Basta vermos a repercussão mundial alcançada pelos vencedores do prêmio Nobel, o mais honroso do mundo. Por algumas semanas, durante o período em que ocorre a divulgação dos resultados, ficamos imersos em temas como design de proteínas, em aprendizado de máquinas ou em estudos de disparidade de prosperidade entre as nações.
Mais recentemente, nós, brasileiros, nos emocionamos com a cientista Mariângela Hungria, pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que recebeu o Prêmio Mundial de Alimentação (World Food Prize), por seus estudos relacionados aos bioinsumos e em prol da sustentabilidade da agricultura brasileira.
Destacar essas histórias é também o objetivo principal do Prêmio Fundação Bunge, entregue há 70 anos a cientistas e personalidades brasileiras. Neste ano, os quatro cientistas premiados — sendo dois por sua vida e obra, e outros dois jovens pesquisadores com idades até 35 anos — possuem iniciativas voltadas à emergência climática. São pesquisadores brasileiros que desenvolvem pesquisas científicas relacionadas à gestão do risco climático na produção de alimentos e aos saberes e práticas dos povos tradicionais e sua importância para a conservação dos recursos naturais. Os temas refletem a convicção de que a ciência e o conhecimento ancestral são fundamentais para a garantia de uma existência sustentável.
É motivo de orgulho saber que, com incentivo, todos podem chegar a ocupar posições tão importantes na nossa sociedade. Neste ano, temos como laureados: mulher, indígena, quilombola e pessoas que começaram sua trajetória de estudos em escolas públicas de diversas regiões do Brasil, fora do eixo Rio–São Paulo. Isso mostra o talento do brasileiro, que aflora com oportunidade e acesso à educação de qualidade.
Nas próximas semanas, o tema das emergências climáticas estará ainda mais em evidência no Brasil e no mundo por conta da COP-30. Cientistas de diversas áreas de conhecimento nos ajudarão a entender esses impactos no futuro do planeta, na produção de alimentos, na saúde e na qualidade de vida da população. Eles serão nossa bússola e fonte de informação confiável para cobrar que os governos de 198 países se comprometam a reduzir suas emissões de carbono, realizar o financiamento climático e assegurar que as soluções climáticas sejam socialmente justas e equitativas.
Este é um bom momento para conhecer, reconhecer e valorizar nossos pesquisadores e seus estudos fundamentais para a manutenção da vida no nosso planeta.
Opinião por Ruy Altenfelder - Advogado, é presidente emérito da Academia Paulista de Letras Jurídicas
Cláudia Buzzette Calais - É diretora-executiva da Fundação Bunge