Acacio Vaz de Lima Filho*

O título --- insólito embora --- não deve causar estranheza, merecendo entretanto uma explicação. Ao tempo em que eu cursava a Faculdade de Direito de São Paulo, o meu saudoso amigo Eduardo Lopes da Silva Neto, o “Eduardão”, me falou de um apedeuta que havia sido Presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, e que era “de esquerda.” Tal indivíduo, querendo se referir à “Dialética Marxista”, esbarrava em sua própria ignorância sesquipedal, e dizia “Dietética Marxista”... o erro do comunista analfabeto serve, sem embargo, de ponto de partida para algumas considerações sobre o Marxismo e suas aplicações.

Coube a Heraldo Barbuy demonstrar, em obra clássica, que o Marxismo não é uma ideologia, nem uma filosofia, nem uma doutrina econômica: Ele é ao revés uma religião, com tudo o que daí decorre. Uma religião ateia e materialista, sem dúvida, mas uma religião, cujo dogma fundante é a primazia do fator econômico sobre todos os demais fatores, no que diz respeito aos homens e às relações intersubjetivas.

Fui aluno de Heraldo Barbuy no “Convívio – Sociedade Brasileira de Cultura”, e guardo com carinho o livro “Marxismo E Religião”, com uma dedicatória do autor. A obra foi editada em São Paulo, em 1974, pela Editora Convívio.

Concordo com o meu antigo mestre, no que diz respeito à índole eminentemente religiosa da doutrina de Marx. E acrescento que é justamente o dado de ser o Marxismo uma religião que explica a sua sobrevivência e a existência de partidários seus, apesar do seu rotundo fracasso, em todos os países em que os comunistas tomaram o Poder. Tal fracasso é inescondível. E sem embargo dele, o sistema continua a ter defensores, que melhor seriam chamados de “fiéis”!...

Não deixa de ser irônico que uma doutrina que partiu do primado da Economia, tenha fracassado justamente... no campo econômico. E a ilação a ser tirada deste dado é inevitável: Não pode ser “boa”, do ponto de vista social, uma doutrina que, quando aplicada, provoca a necrose da vida econômica. E isto porque, embora o Homem não se esgote com a mera satisfação das suas necessidades materiais, tem ele a precisão do alimento, do vestuário, da moradia e assim por diante...

O Marxismo tem se mostrado incapaz de resolver o problema das necessidades econômicas da Humanidade. Onde ele se instalou, existe a fome das populações por ele governadas, e é justamente tal fome que torna impressionantemente atual a silabada do tal Presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto. Pois que é possível, hoje, falar com segurança de uma “Dietética Marxista.”

Em Cuba, o sucessor de Fidel Castro mandou reduzir a quantidade --- que já era baixa --- das proteínas diárias a que cada cidadão da ilha faz jus... na Venezuela o quadro não é diferente, já tendo sido registrada uma diminuição do peso corporal dos habitantes de um país que, outrora, era rico e cujo povo ostentava um excelente nível de vida.

Sim, a “Dietética Marxista” pode ser resumida em uma breve frase: Pouco alimento para o povo. Com um detalhe: Os dirigentes do sistema se alimentam lautamente, e têm acesso a bens de consumo nem sonhados pela grande maioria da população. Este pormenor tem no entanto uma explicação: Com deixou claro Milovan Djilas em “A Nova Classe – Uma Análise Do Sistema Comunista”, a burocracia do Partido Único (do Partido Comunista) é mais opressora do que a “classe dominante” que a Revolução derrubara. Esta “Nova Classe” é detentora de privilégios odiosos. E isto permite dizer que na Religião Marxista também existe o voto de pobreza. Só que tal voto é feito pelos “fiéis”, e não pelo “Clero”!...

*Acacio Vaz de Lima Filho, Livre-Docente em Direito Civil, área de História do Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco, é acadêmico perpétuo da Academia Paulista de Letras Jurídicas, titular da cadeira de nº 60 – Patrono: Luiz Antonio da Gama e Silva