Discurso proferido por Acacio Vaz de Lima Filho em Ribeirão Preto no dia 23 de Novembro de 2018, ao abrir, na FAAP, o congresso do Sindicato dos Advogados do Interior Paulista.
“Talassa! Talassa!” – “O mar! O mar!” --- bradaram os gregos comandados por Xenofonte na “Retirada dos Dez Mil” (Anábasis) quando, vencidos mil perigos, avistaram as águas do Oceano, que iriam reconduzí-los à Pátria distante...
O brado dos guerreiros gregos, posso eu repetí-lo agora, neste feliz momento em que, pela segunda vez em minha vida, tocou-me a subida honra de abrir este simpósio do ainda jovem, e sem embargo pujante, “Sindicato dos Advogados do Interior Paulista.”
O evento que hoje tenho o justo orgulho de inaugurar, não me faz lembrar, apenas, do clássico grego de Xenofonte: --- Aqui vejo amigos, velhos e queridos amigos, irmanados nas duras lides das profissões forenses. E ocorrem-me os versos de Camões, na descrição da chegada das caravelas de Vasco da Gama ao Porto de Melinde:
“Enche-se toda a praia melindana,
Da gente que vem ver a leda armada,
Gente mais verdadeira e mais humana,
Que a de toda a outra terra atrás deixada...”
Assim me sinto eu, excelentíssimas autoridades, colegas advogados, senhoras e senhores: Tudo muda, menos a calorosa acolhida que sempre tive, e graças a Deus tenho, nesta nossa muito amada cidade de São Sebastião do Ribeirão Preto.
O moderno Sindicato tem o seu embrião nas Corporações de Ofício da Idade Média. Podemos dizer com segurança que ele, Sindicato, é, --- tanto quanto a Universidade ---- uma instituição medieval. E esta origem no Medievo, longe de amesquinhar o Sindicato, o engrandece, e muito.
Hoje --- ultrapassados os preconceitos com que a pseudociência do século XIX cercou a Idade Média --- sabemos que ela foi não a “Idade Escura”, mas uma das épocas mais brilhantes da História da Humanidade.
“Frei Exemplo é o melhor pregador”, dizia o padre jesuíta Antonio Vieira, o maior orador sacro da História do Brasil e de Portugal, e um dos maiores mestres da Língua Portuguesa. Precisamos pois mencionar algumas das criações da Idade Média --- época do surgimento do sindicato em sua forma embrionária --- para que os elogios a ela quedem justificados.
Ela foi aquele “momento mágico” do pensamento humano, em que Santo Tomás de Aquino, o maior vulto da Escolástica, adaptou o pensamento de Aristóteles de Estagira ao Cristianismo; ela construiu o ideal da Cavalaria, fundou a Universidade e criou a ainda hoje admirada Arquitetura Gótica...isto, entre muitas outras criações sublimes.
Duas instituições medievais, hoje, se encontram em crise: --- A Universidade e o Sindicato, este, repitamo-lo, o herdeiro das “Corporações de Ofício.” A missão de resgatar ambas estas instituições compete a nós, homens do dealbar do século XXI.
“Resgatar” implica em voltar às origens das instituições para, com coragem e acuidade, percorrer a sua evolução histórica, tendo o objetivo de escoimá-las dos seus eventuais --- e atuais --- defeitos.
O fator que, acima de quaisquer outros, fez a grandeza da Corporação de Ofício na Idade Média foi a sua independência diante do poder político. O corolário de tal independência, era o autogoverno. Tudo isto, como é óbvio, era conducente à luta permanente em prol dos interesses dos profissionais de uma determinada categoria.
Este é o desafio que têm diante deles os dinâmicos dirigentes deste “Sindicato dos Advogados do Interior Paulista”: --- Deixar de banda as vaidades e os interesses pessoais, com o emprego de todas as energias na defesa dos interesses dos advogados; não fazer do sindicato um trampolim para cargos eletivos na Política, e não se dobrar ante interesses escusos!...
É um desafio enorme, é um dos “Trabalhos de Hércules”, forçoso é que o reconheçamos...em uma palavra, assim deve ser enunciado tal desafio: “Sempre dirigentes sindicais, comprometidos com os interesses da categoria, desde que compatíveis com a Ética, e nunca sórdidos pelegos!...”
Estão pois, estes jovens dirigentes, diante de um repto que, deles, exige a união do sonho com a realidade. E, bem por este motivo, concluo com uma exortação contida no “Código de Ética do Estudante” de Plínio Salgado, o fundador da “Ação Integralista Brasileira”:
“Se és incapaz de sonhar, nasceste velho.
Se o teu sonho te impede de agir segundo a realidade,
Nasceste inútil. Se, porém, és capaz de transformar
Sonhos em realidades, e de tocar as realidades que encontras com a luz dos teus sonhos, então, tu serás
Grande na tua Pátria, e a tua Pátria será grande em ti!”
Muito obrigado