Crédito: Correio Braziliense - Opinião - 17/11/2021
Por Ruy Altenfelder - Curador dos Prêmios Fundação Bunge, presidente do Conselho Superior de Estudos Avançados (Consea) e presidente da Academia Paulista de Letras Jurídicas e Cláudia Calais - Diretora-executiva da Fundação Bunge
A contenção do aquecimento global, cujos efeitos já podemos sentir nos dias de hoje, é o grande desafio das próximas gerações. Para frear o desequilíbrio ambiental, precisaremos de combustíveis menos poluentes, de novas técnicas agrícolas, de novas fontes de energia. Teremos que inventar modelos urbanos, econômicos e sociais mais sustentáveis. Estamos na antessala de um rearranjo completo das cadeias produtivas globais e do nosso próprio modo de vida, desafios que só serão superados com base em novos conhecimentos e novas tecnologias.
O investimento em educação e ciência, portanto, nunca foi tão importante. Avanço científico e progresso social sempre foram fenômenos indissociáveis, mas nota-se agora que a própria sobrevivência da espécie humana está em jogo. Sociedades que valorizam a ciência são aquelas com melhores chances de encontrar soluções para os grandes desafios deste século.
A pandemia de covid-19 deu uma amostra disso. Graças à ciência, conseguimos mapear a evolução do vírus e desenvolver vacinas em tempo recorde, as quais vêm reduzindo drasticamente o número de mortes e oferecendo uma rota de saída para a pandemia.
Investir em ciência não é um gasto, mas uma aposta no futuro. No médio e longo prazos, não há aplicação que traga tanto retorno, inclusive financeiro, quanto a valorização do trabalho dos cientistas. Tecnologias inovadoras podem se tornar negócios bilionários, além de serem decisivas, como vimos, para a construção de um presente sustentável para toda a humanidade.
Essa foi a visão de mundo que levou a Bunge a criar, 66 anos atrás, a Fundação Bunge, valorizando pessoas e seus conhecimentos, e o Prêmio Fundação Bunge para homenagear e incentivar contribuições notáveis à ciência brasileira. O prêmio chega à sua 65ª edição mais relevante do que nunca, como demonstram os trabalhos contemplados em 2021.
Na área de Ciências Biológicas, Ecológicas e da Saúde, foram selecionados trabalhos relacionados à prevenção de doenças infecciosas. O contemplado na categoria "Vida e Obra" foi o professor Ricardo Gazzinelli, presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia, docente na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e cofundador do Centro de Tecnologia de Vacinas da UFMG-Fiocruz. Já na categoria "Juventude", o contemplado foi Tiago Mendes, professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade Federal de Viçosa, um jovem pesquisador que vem se destacando por seus trabalhos sobre controle de enfermidades.
Foram contemplados também profissionais das Ciências Agrárias. Em "Vida e Obra", o ganhador foi o engenheiro agrícola Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV). O prêmio "Juventude" ficou com Fabiani Bender, pós-doutora em ciência pela Esalq/USP e membro do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Ambos desenvolvem pesquisas relacionadas aos impactos das mudanças climáticas na produção de alimentos.
Profissionais como esses buscam soluções para alguns dos maiores desafios da nossa época. É preciso valorizar seu trabalho, especialmente quando se tem em vista que o Brasil estuda cortar o Orçamento público dedicado à pesquisa científica, colocando-se na contramão das nações desenvolvidas. Diante de problemas ambientais, sociais e sanitários cada vez mais complexos, infelizmente ainda temos dificuldade para enxergar o trabalho do cientista como essencial ao desenvolvimento nacional e até à nossa sobrevivência.
Investir em ciência é garantir que estaremos à altura dos grandes desafios que este século nos reserva. Quanto antes aprendermos essa lição, mais chances teremos de construir um futuro próspero e sustentável para todos os brasileiros.