Escrevo aos 14 de Julho de 2020. No dia 14 de Julho de 1789 a escória de Paris, incitada por uns tantos demagogos, invadiu a Bastilha, chacinou o comandante da guarnição e soltou os poucos presos que ali estavam. Tinha início a chamada “Revolução Francesa” de 1789, marco inicial da Idade Contemporânea. E a passagem desta data reclama uma série de reflexões.
Há dois tipos de estudiosos da História: --- Aqueles que chamo de “superficiários”, que apenas enxergam o que se passa na sociedade, sem perquirir das causas profundas dos acontecimentos, e aqueles que sabem que, subjacente aos fatos históricos, existe a poderosíssima atuação de forças políticas, econômicas, ideológicas, religiosas e assim por diante. Estes últimos são os verdadeiros estudiosos --- e os únicos conhecedores --- da História.
Do que afirmei, resulta que, ao lado de uma “História Oficial” existe uma “História Secreta”, sendo isto verdadeiro para o estudo da “Revolução Francesa” de 1789. Para início de conversa, tal revolução pouco ou nada teve de “francesa.” Do ponto de vista doutrinário, ela se baseou nos escritos dos enciclopedistas que, de acordo com o Pe. Leonel Franca, S.J., “tiraram fria e cruelmente as derradeiras conseqüências dos princípios de Locke, Hume e Condillac, aplicando-os à filosofia, à moral, à religião e à política.” E aduz o pensador brasileiro que o aparecimento de tais autores no derradeiro quartel do século XVIII “é assinalado em França por uma horrível explosão de materialismo.” Assim, o “substractum” doutrinário da Revolução de 1789 era tudo menos “francês”!... Clovis, Rei dos Francos, havia sido no dealbar do Medievo o primeiro chefe germânico a se converter ao Evangelho de Cristo. E bem por este motivo o Rei de França tinha o título de “Filho Primogênito da Igreja.” A França era --- e ainda é --- católica, profundamente católica. A França é o Rei São Luiz, é Bayard e é Santa Joana D’Arc. Ela não é, e jamais foi, o cínico Voltaire...
Um outro dado que tira qualquer nota de “nacional”, de “francês” à malsinada revolução, é o fato de em grande parte haver ela sido tramada no recesso das “lojas” maçônicas, e pois, por uma sociedade secreta, internacional, que é a antítese da Civilização Ocidental e Cristã. “Frei Exemplo é o melhor pregador”, dizia Vieira. O lema de 1789 é exatamente o mesmo ainda hoje alardeado pela Franco-Maçonaria: --- “Liberdade, Igualdade, Fraternidade.”
Uma revolução que apregoava a “Liberdade” proibiu as Corporações de Ofício que organizavam os trabalhadores dos diversos ramos da atividade. Isto foi feito pela “Lei Le Chapelier” de 14 de Junho de 1791. Mais tarde o Código Criminal iria capitular como crime qualquer tentativa de criar associações de trabalhadores... “Ubi est Libertas”? Onde está a Liberdade?...
Se a “Liberdade” foi nas mãos dos revolucionários de 1789 uma mentira e uma impostura, outro tanto pode ser dito da “Igualdade.” Na antiga Grécia, a “Isonomia” era o privilégio, ostentado pelos cidadãos, de obediência às leis da cidade. A Revolução Burguesa de 1789 criou uma categoria abstrata de Igualdade, afirmando que “todos são iguais perante a lei.” Implantou assim uma “igualdade” formal e falsa, que não existe na concreção da vida: --- Em nome da “Igualdade”, os homens economicamente mais fortes podem esmagar os economicamente mais débeis!... foi com o uso desta estranha “Igualdade” que se perpetraram os piores excessos do Capitalismo.
Quanto à “Fraternidade”, há dizer que ela é provavelmente a mais cínica e mentirosa das proposições da Revolução que foi, ela própria e no seu todo, cínica e mentirosa. O “Terror” implementado por Robespierre dispensa comentários. Aliás, estranhíssima é a tal “fraternidade” que mandou à guilhotina milhares de pessoas!... estranha “fraternidade” é esta que presidiu ao frio assassinato de milhares de inocentes na Vendéia!...
O outro desserviço prestado pela Revolução de 1789 à França e a toda a Humanidade, foi o agigantamento do poder do Estado, servido pelo burocrata frio, impessoal e cuja consciência é um Regulamento: --- Javert de “Os Miseráveis” de Victor Hugo é neste sentido o “antepassado” dos esbirros das polícias dos Estados totalitários... para concluir, os acontecimentos de 1789, hoje, carecem de ser redimensionados, à luz dos genuínos valores do Ocidente.
*Advogado e professor universitário, é autor dos livros “O Poder Na Antiguidade – Aspectos Históricos E Jurídicos”, “As Constituições Imperiais Como Fonte Do Direito Romano” e “A Censura: Magistratura Moral Da República Romana”