Os historiadores do futuro, desde que sejam intelectualmente honestos, e pois, não engajados ideologicamente com as “esquerdas”, assinalarão a morte de Pio XII, em 1958, como o começo do fim da Igreja Católica, Apostólica e Romana. Esta Igreja foi fundada pelo próprio Cristo, ao modificar o nome do discípulo Simão, chamando-o de “Pedro.” Trata-se do tão conhecido “Tu es Petrus.” E disse o Cristo que sobre aquela Pedra (o primeiro Papa) edificava a sua Igreja, prometendo outrossim que as portas do Inferno não prevaleceriam contra ela. Nesta promessa solene de Jesus Cristo, acreditaram sempre os católicos.
Com a sua habitual clarividência, ensina Hannah Arendt, “in” “Entre O Passado E O Futuro”, que a Igreja Católica foi a herdeira de Roma, fazendo da morte e da ressurreição de Cristo uma nova “Fundação.” O verbo latino correspondente a “fundar” é o verbo “Augeo”, que possui, entre outros, os significados de “fundar”, “aumentar” e “engrandecer.” E, como assinalamos em nosso modesto livro “As Constituições Imperiais Como Fonte do Direito Romano” (São Paulo, Icone Editora, 2006, página 58), a fundação da “Urbs” tinha um cunho sacral para o Povo do Lácio.
É ainda a discípula de Martin Heidegger quem ensina que, em tudo o que se refere a Roma, é fundamental que se leve em conta a tríade “Religião-Autoridade-Tradição.” E aduz Hannah Arendt que, na hipótese de um desses elementos ser abandonado, os outros dois se perdem. A essência da Igreja Católica é Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. E, de acordo com o magistério de Goffredo da Silva Telles Junior, “essência é aquilo pelo que uma coisa é o que é, e se distingue das demais coisas.” Mais ainda, legatária de Roma, a Igreja Católica é, em seu espírito, romana. Segue-se que não se pode conceber o Catolicismo sem a tríade Religião-Autoridade-Tradição.
Falecido o Papa Pio XII em 1958, o seu sucessor, João XXIII, convocou o “Concílio Ecumênico Vaticano II”, o qual provocou a pior das crises que assinalaram a História da Igreja Católica. A rigor, o aludido concílio literalmente implodiu a Santa Igreja, graças à presença, nas assembleias, de inimigos internos infiltrados no clero. Aqui me refiro, de maneira expressa e inequívoca, a padres, bispos e até cardeais cripto-comunistas e cripto-maçons... como o comprova a História, infiltrações no Clero não eram uma novidade. O trágico é que, no Concílio Ecumênico Vaticano II, as doutrinas deletérias, materialistas e heréticas triunfaram em toda a linha.
A Igreja pós-conciliar abandonou a Tradição, e “ipso facto” perdeu a Autoridade. Ela se dessacralizou, deixando a sua missão evangelizadora e salvífica, e voltando-se para a “solução” --- marxista ou filo-marxista --- dos problemas temporais. O Latim foi abandonado na celebração do santo sacrifício da missa, e a liturgia foi mutilada... com o abandono do Latim, é óbvio que a Igreja perdeu em universalidade. Trata-se do fenômeno lobrigado por Jacques Maritain: “A Igreja ajoelhada diante do Mundo”... as irmandades religiosas (Congregação Mariana, Filhas de Maria, Cruzada Eucarística e outras) na prática desapareceram. E a indevida e excessiva participação de leigos na missa desembocou nas famigeradas “Comunidades Eclesiais de Base”, que funcionam como as células do Partido Comunista!...
O “Sínodo dos Bispos para a Amazônia”, iniciado em Roma no dia 6 de Outubro, é a “probatio probationum” do quanto aqui afirmo: Este sínodo é presidido por um Pontífice que parece ignorar que é, a Igreja Católica, Apostólica e Romana, uma monarquia eletiva, com tudo o que daí decorre. Destarte Sua Santidade devia se fazer chamar de “Francisco I”, de acordo com o protocolo das monarquias. Optou por um “popular”, melhor dizendo demagógico “Papa Francisco...” este nome, por si só, agride a tradição bimilenar da Igreja de Cristo. Rebelando-se contra a tradição --- e pois, mandando às urtigas a Autoridade --- o atual Papa recusou-se a usar o sapato vermelho, como todos os seus antecessores, alegando não ser um príncipe da Renascença. Olvida o soberano pontífice que, na tradição romana, a púrpura é a cor do “Imperium”, vale dizer, do poder de comando, outrora ostentado pelos magistrados da “Res Publica.”
O último número da revista “Catolicismo” demonstra, de maneira irretorquível, que este “Sínodo da Amazônia” é tudo, menos católico... o que o Comunismo Internacional com ele pretende é a pura e simples agitação política, com a instrumentalização dos índios e das populações ribeirinhas em geral para atingir o “desideratum” da destruição da Fé. A Igreja pós-conciliar, abandonando a sua tradição missionária --- tão rica no Brasil de São José de Anchieta ! --- está, na região amazônica, mancomunada com ONGs que defendem interesses estrangeiros, e que preconizam que os índios --- que são brasileiros e merecem os benefícios da civilização --- fiquem entregues ao paganismo, à ignorância e à pobreza. Que “vivam” para ser exibidos aos turistas, como animais estranhos. Isto tem um nome: FALTA DE CARIDADE CRISTÃ!
Acacio Vaz de Lima Filho, advogado e professor universitário, é Livre-Docente em Direito Civil, área de História do Direito, pela Faculdade de Direito de São Paulo (Largo de São Francisco), sócio titular do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, acadêmico perpétuo da Academia Paulista de Letras Jurídicas, associado efetivo e conselheiro do Instituto dos Advogados de São Paulo, e membro da União dos Juristas Católicos de São Paulo