(Jornal Estado de Direito – nº 49, página 12)

A despeito das críticas desferidas contra a chamada ―Operação Lava Jato‖, oriundas dos setores que promoveram um conúbio subterrâneo entre políticos corruptos, de um lado, e grandes empresários inescrupulosos, de outro — além daqueles que, por motivos óbvios, os defendem — o fato é que estamos assistindo, no Brasil, a reedição da operação ―Mani Pulite‖, corajosamente deflagrada na Itália, nas décadas de oitenta e noventa da centúria passada.

Marco daquela operação terá sido a prisão de Mario Chiesa, então diretor de uma instituição filantrópica de Milão. A atuação dos juízes Paolo Borsellino, Giovanni Falcone e Antonio Di Pietro, terá sido decisiva para o sucesso da grande cruzada judiciária contra a ―democrazia venduta‖ (democracia vendida), segundo a expressão desse último magistrado.

Se não temos tão brilhante plêiade para combater o estado deplorável de nossa corrupção endêmica, há que se destacar, evidentemente, a figura paradigmática do nosso juiz federal Sérgio Moro, hoje reconhecidamente, em todo o território nacional, homem de absoluta integridade ética e intelectual.

Se mais de 95% das suas decisões, até agora, foram mantidas pelas nossas Cortes Superiores, é de supor-se que esse magistrado está acertando muito mais do que errando, devendo ser tal índice de acerto que está irritando tanta gente...

Sabe-se que Moro ter-se-á inspirado, em grande parte, no esforço ingente e histórico da magistratura peninsular.

A Operação Mãos Limpas, na Itália, conquanto limitada em seus benéficos efeitos, varreu exitosamente os desmandos de vários partidos políticos, jogando-os na marginalidade. Só não pôde dar resultados melhores pela cavilosa atuação do presidente Berlusconi, que tomou, como uma das primeiras atitudes de seu governo, a iniciativa de tentar comprar o juiz Di Pietro, convidando-o para ser Ministro da Justiça.

Tal convite foi pronta e solenemente recusado pelo íntegro magistrado, mas Berlusconi conseguiu ir minando, pouco a pouco, os efeitos benfazejos da ―tangentopoli‖, graças à sua articulação política para descaracterizar como crimes as operações contábeis realizadas pelas empresas e pelos partidos componentes das várias quadrilhas existentes.

Escusava dizer que há uma diferença fundamental entre a operação Mani Pulite e a nossa operação Lava Jato. Lá, muitos industriais e políticos descobertos suicidaram-se. Aqui, eles atacam a "República de Curitiba" e a todos os brasileiros que querem sepultar de vez a corrupção indecorosa que assola o País.

Enquanto aqui no Brasil se discute se a divulgação dos grampos envolvendo Dilma e Lula teria sido legal ou não, muito provavelmente a discussão na Itália seria se a não divulgação caracterizaria ou não um crime de prevaricação... Enfim, parece que ainda estamos apenas no começo da abertura da Caixa de Pandora... Muitas coisas ainda virão se o Estado Democrático de Direito prevalecer sobre a cleptocracia que os "defensores da democracia", tão perniciosamente criaram...

Qual será o futuro da nossa operação Lava Jato é o que o povo brasileiro deseja ardentemente saber. Se não houver o impedimento da atual presidente da República, com o senhor Luiz Inácio Lula da Silva — o "nosso Berlusconi", conforme escreveu Luiz Felipe Pondé — atuando livremente nas cercanias do Palácio da Alvorada, é claro que o futuro da operação estará altamente comprometido.

Um homem que conseguiu montar no Brasil um esquema de "corrupção sistêmica", tal como o fez Lula, prosseguirá com sua truculência devastadora como nunca antes vista ―"na história deste país"... É sintomático que, numa de suas conversas com a presidente da República, o Berlusconi tupiniquim não tenha tido nenhum receio em afirmar: ― "Nós temos uma Suprema Corte totalmente acovardada, nós temos um Superior Tribunal de Justiça totalmente acovardado, um Parlamento totalmente acovardado. Somente nos últimos tempos é que o PT e o PCdoB começaram a acordar e a brigar. Nós temos um presidente da Câmara fodido, um presidente do Senado fodido. Não sei quantos parlamentares ameaçados. E fica todo mundo no compasso de que vai acontecer um milagre e vai todo mundo se salvar. Sinceramente, eu tô assustado com a República de Curitiba"

Por República de Curitiba é incontroverso que a "jararaca viva", como Lula orgulhosamente se autodenomina, destilou sobre a Lava Jato todo o seu veneno de cobra peçonhenta, exibindo a força de sua musculatura e dos seus "exércitos"...
Torçamos para que a Lava Jato seja a íbis do Brasil e, para o bem de todos os brasileiros, vença sua enorme luta contra a jararaca...