Os reencontros muitas vezes são benvindos e agradáveis, e aqui incluo os reencontros intelectuais. No jornal "Correio Popular" de Campinas, edição de 30-12-2017, página A-2, topei com um excelente artigo de Ricardo Vélez Rodriguez, intitulado "Tolerância e diversidade." Tratou-se para mim de um gratificante reencontro intelectual, pois Ricardo Vélez Rodriguez foi meu colega de magistério no "Convívio – Sociedade Brasileira de Cultura", e, como eu próprio, um colaborador da "Agência Planalto de Notícias”! ...
A temática do artigo em tela é o tal de "politicamente correto", segundo o autor, uma criação da esquerda norte-americana, nos anos setenta da passada centúria, "como expressão da unanimidade ao redor do Legislador." Este último detalhe é importantíssimo, como demonstrarei adiante.
Aristóteles, o homem que ensinou o Ocidente a pensar, entendia que "os nomes derivam das coisas." Em Latim, esta lição do estagirita assim se expressa: "Nomina sunt consequentia rerum." Por sua vez, Goffredo da Silva Telles Junior dizia que as palavras possuem um "sacrário", que é o seu significado. Lembro ainda, na esteira de Napoleão Mendes de Almeida, que o idioma de um povo não é uma criação arbitrária da vontade humana, porém o resultado de um longo processo cultural, e, pois, histórico...
Se o idioma --- e as palavras que o compõem --- são fatos culturais, o "politicamente correto", imposto de maneira odiosamente difusa pelos meios de comunicação, é um produto artificial que, a médio e a longo prazos, impedirão a discussão lúcida de quaisquer assuntos, uma vez que, ao invés de usarem as palavras certas para designar as coisas certas, os homens terão que se valer de eufemismos. E a quem interessa o "politicamente correto"? É óbvio que à tirania das minorias (étnicas, sexuais, dietéticas etc) que desejam impor (e a palavra é esta!) a "unanimidade ao redor do Legislador", profligada por Ricardo Vélez Rodriguez.
Pouca gente percebe que os avanços do "politicamente correto" tendem a recriar o chamado "crime de opinião", escorraçado do Direito Penal do Ocidente, mas presente, até há poucos anos, no Direito Penal da defunta "União das Repúblicas Socialistas Soviéticas." Ou seja --- e como bem demonstrado por Ricardo Vélez Rodriguez --- pensar em desacordo com a unanimidade da "República dos Zumbis", é algo que incomoda, e, pois, que deve ser punido. Dizendo as coisas de outra forma, o "politicamente correto" é a antítese do pluralismo ínsito nos regimes autenticamente democráticos. E isto é altamente perigoso, por motivos mais do que óbvios.
O "politicamente correto" é, por igual, a negação da tolerância, e, "ipso facto", da convivência civilizada, que nasceu na "Ágora" das "Poleis" gregas, passou para o "Forum" da "Urbs", e recebeu o beneplácito do Cristianismo, ao consagrar este o livre arbítrio...
Em nome do "politicamente correto", a Humanidade ora caminha para a mais terrível de todas as servidões. É preciso que soe um alerta. Agora encerro este artigo, e deixo minha caneta em cima do meu criado mudo. Perdão! Em cima do meu auxiliar doméstico desprovido de fala! ...