O popular científico britânico, trabalhando em sua cadeira de rodas, deu sua singular contribuição à física, também através de suas conferências com a voz gerada pelo computador.
Durante um voo de volta para casa, tive a oportunidade de assistir a um filme bastante atraente intitulado em português “Como eu era antes de você”, adaptação do livro de Jojo Moyes.
Lindos atores, paisagem maravilhosa, trilha sonora perfeita. O romance vai evoluindo de forma envolvente e significativa, juntamente com a personalidade dos protagonistas. De repente, a capacidade humana de transformação através de um amor incondicional é truncada pelo egoísmo, e é preciso ser muito pouco romântico para não ter uma grande decepção com o fim pelo qual o espectador torce —ainda que conheça o livro— para que não aconteça, pelo menos na tela.
E se...? Questão comum diante de hipóteses plausíveis. E se o tetraplégico se abrisse ao amor que lhe foi oferecido? E se entendesse que como filho único também tinha um papel junto a seus pais? E se aceitasse o desafio de dar sua contribuição a partir da nova realidade, embora trágica. Porém a história caminha de forma fictícia: pais que pagam o suicídio do filho em nome com um sorriso compreensivo; a namorada que presta sua homenagem ao amor celebrando a morte na Suíça e depois lendo descontraidamente a carta do amante em Paris...
Realmente uma “doce” morte própria de uma suave apologia à eutanásia. Nesse sentido, veio-me também à memória um testemunho que assisti em um Congresso na Califórnia, de um filho cuja mãe foi morta em um hospital, por estar em depressão, sem que ele nem fosse sequer informado (caso Mortier x Belgium), que estampa uma reação muito mais humana e real diante do “direito de morrer”...
No dia em que Stephen Hawking faleceu, ouvi um comentário de que se fosse ele teria optado pela morte muito tempo antes! Porém, o popular científico britânico, trabalhando em sua cadeira de rodas, deu sua singular contribuição à física, também através de suas conferências com a voz gerada pelo computador.
Sua atividade não se baseou em uma postura religiosa, ainda que na completude de sua obra não rejeitasse a existência de Deus. De qualquer forma, 76 anos que valeram a pena: uma vida de superação e amor, como relata sua esposa Jane Wilde em sua autobiografia. Bravo, Hawking, em sua peculiar ode à vida! Mutatis Mutandis evocamos, por fim, as palavras belas e realistas do poeta João Cabral de Melo Neto em seu extraordinário texto “Morte e Vida Severina”:
“Severino retirante, deixe agora que lhe diga: eu não sei bem a resposta da pergunta que fazia, se não vale mais saltar fora da ponte e da vida...E difícil defender só com as palavras a vida...não há melhor resposta que o espetáculo da vida...vê-la desfiar seu fio que também se chama vida...vê-la brotar como há pouco em nova vida explodida...mesmo quando é a explosão de uma vida Severina”.