(Correio Braziliense)

No dia 09 de agosto de 1907, na cidade de Guaratinguetá (SP), nasceu Mário de Moraes Altenfelder Silva. Quinto filho de uma prole de 12, do magistrado António Hermógenes Altenfelder Silva e Dona Maria Beralda Moraes Silva.

Mário veio para a capital de São Paulo em 1925, aos 18 anos, doutorando-se pela Faculdade de Medicina do Araçá (hoje da USP). Foi ativo político universitário e atingiu a presidência do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz, primeiro passo de uma carreira que se caracterizou pelo exercício de inúmeros cargos e missões de importância no país e no exterior. Duas influências fundamentais na sua vida: o exemplo do pai e o estágio na polícia, “ Onde aprendeu a conhecer a humanidade e viu de perto os dois mundos da realidade “. Foi dessa marcante influência que iniciou a vida de educador social, que se completou na Provedoria da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, onde entrou como irmão remido, indicado pelo primo-irmão Cristiano (Correio Braziliense,Altenfelder Silva. Como voluntário, foi também irmão protetor, mesário, mordomo do extinto Colégio São José. A exemplo de Cristiano, que exerceu a provedoria por 25 anos, Mário sempre considerou o cargo de provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo o mais alto de sua longa vida pública. Costumavam dizer aos que o rodeavam: “Jamais poderia ter aspirado ao alto múnus público que é o exercício deste cargo”.

Mário não fez política partidária. Alistou-se e participou da Revolução Constitucionalista de 1932. Foi preso e de lá para cá não mais militou em movimentos políticos, embora fosse contra Getúlio e acompanhasse de perto os assuntos políticos. “Os cargos públicos que exerci e a militância fora do território bandeirante ensinaram-me a ser um generalista, de ampla visão social”.

No seu entender, nunca na história da Santa Casa houve qualquer intenção de fazer política, a não ser no sentido de bondade, fato que ele exemplificava pela diferença da Misericórdia em relação à manutenção das Faculdades de Medicina comuns: “O fácil é encontrar-se, por ordem de prioridade, a pesquisa, o ensino e a assistência, enquanto na Santa Casa a ordem é inversa – assistência, ensino e pesquisa (quando possível) ”.

Mário Altenfelder foi casado com Julieta Lira Altenfelder Silva. Adoravam crianças, mas não tiveram filhos, canalizando esse amor para os filhos dos outros. Como ele mesmo dizia: “Não tenho filhos. Os meus filhos foram esses que, durante mais de 40 anos, eu cuidei por aí no Brasil todo”.

Era pediatra com consultório na própria casa, no bairro de Vila Pompéia, em São Paulo, onde mais de uma geração fez parte de sua enorme clientela. Foi diretor do Serviço Social de Menores no governo Carvalho Pinto e mais tarde foi chamado pelo presidente Castelo Branco para implantar a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor, a FUNABEM. Foi ainda secretário de Estado da Promoção Social e secretário municipal de saúde. Sempre ocupado com o problema do menor, dizia que a questão era social, pois em torno da criança a sociedade gira inteirinha. “Querer isolar a criança da sociedade evidentemente é errado. Tem que ver a criança no contexto social. Enquanto isso não acontecer, haverá isso que se vê por aí: abandono”.

Viúvo aos 80 anos, manteve a independência que lhe era característica. Fiel a sua filosofia de que “temos que aceitar a vida como ela é”, aceitava sem queixas as limitações da idade e nunca deu a perceber que se achava doente. Foi dispondo das coisas, organizando a casa do seu modo, até que no dia 30 de maio de 1993, a doença o derrubou.

Nestes tempos de descrença nos homens e nas instituições, vale a pena relembrar a vida e a obra deste cidadão ético, íntegro, dedicado às causas sociais, e recordar a reflexão de Richard Bach: “Quando iniciamos a vida, cada um de nós recebe um bloco de mármore e as ferramentas necessárias para convertê-lo em escultura. Podemos arrastá-lo intacto a vida toda, podemos reduzi-lo a cascalho, ou podemos dar-lhe uma forma gloriosa”, como fez Mário de Moraes Altenfelder Silva.