(Correio Braziliense)

O desenvolvimento cultural do país é também de responsabilidade das instituições e empresas privadas. É relevante mensurar o limite entre a manifestação institucional e a mercadológica. Tal enfoque resulta da experiência pessoal, há quase cinco décadas, de participação nos diversos órgãos de um dos mais conceituados prêmios culturais do Brasil, como é reconhecidamente o Prêmio Fundação Bunge, concedido ininterruptamente há 62 anos.

Um prêmio de incentivo cultural não pode ser visto como atividade promocional e a instituição/empresa ao optar por esta iniciativa deve ter plena consciência de que ela será duradoura. Do contrário é mais acertado patrocinar um evento cultural ou promover atividades comunitárias. Chego a tais conclusões por meio de larga e longa experiência como conselheiro, superintendente e curador do Prêmio Fundação Bunge.

Quando consultado sobre a credibilidade e a repercussão do prêmio, costumo responder que não existe receita básica, mas fatores decisivos para toda e qualquer premiação do gênero: impessoalidade; periodicidade; e, fundamentalmente absoluta isenção na escolha dos premiados. Somam-se a isso os objetivos da própria fundação em incentivar o desenvolvimento das ciências, letras e artes brasileiras, e a filosofia de sua mantenedora que nunca considerou tal iniciativa um espelho através do qual pudesse refletir a empresa e seus produtos.

Instituído em 1955, o Prêmio Fundação Bunge contempla personalidades que se destacam em diversos ramos das ciências, letras e artes. É um dos mais importantes e tradicionais estímulos à produção intelectual brasileira. A cada edição, dois ramos de atividade são contemplados, duas personalidades pelo conjunto de seus trabalhos (categoria Vida e Obra) e dois jovens talentos de até 35 anos que se destacam nos seus campos de atuação (categoria Juventude).

A definição dos ramos de atividades se dá por rodízio baseado nas seguintes áreas do conhecimento humano: ciências agrárias; ciências biológicas ecológicas e da saúde; ciências exatas e tecnológicas; ciências humanas e sociais; letras; artes. Isso garante que, ao fim de um período de cinco anos, cada uma dessas áreas terá marcado presença com um ramo de atividade contemplado.

Os candidatos ao Prêmio são definidos por indicação espontânea dos representantes das principais universidades e entidades culturais e científicas do País. A partir dessa primeira lista de nomes, as Comissões Técnicas – compostas de especialistas nacionais e internacionais nas áreas de premiação – elegem os contemplados na categoria Juventude e selecionam os nomes que serão analisados pelo Grande Júri na categoria Vida e Obra. O Grande Júri é formado por reitores, representantes de entidades científicas e culturais e ministros de Estado. Por meio deste prêmio, a Fundação Bunge reconhece o poder transformador de indivíduos que propõem novas idéias e apontam novos caminhos possíveis para a humanidade.

O Prêmio Fundação Bunge (antigo Moinho Santista) acompanhou, nessas seis décadas, todas as crises políticas, econômicas e sociais do país, mas em nenhum momento deixou de ter candidatos indicados e escolhidos apolítica e apartidariamente, como previsto no seu Estatuto. Prova disso é a galeria de personalidades premiadas: Miguel Reale, Crodowaldo Pavan, Cesare Lattes, Oscar Niemeyer, Raimundo Faoro, Eugênio Gudin, Jorge Amado, Alceu Amoroso Lima, Manuel Bandeira, Erico Verissimo, Maria Bonomi, Paulo Autran, Di Cavalcanti, Celso Lafer, Jacques Marcovitch, Gilberto Freyre, Antonio Candido, Paulo Bomfim e tantos outros num total de quase 200 premiados.

A seriedade e credibilidade conquistadas tornam o Prêmio Fundação Bunge respeitado nos meios culturais do país. Não há nenhum segredo em se instituir e manter um prêmio. O que se recomenda é considerá-lo um instrumento através do qual as instituições/empresas colaborem permanentemente para o desenvolvimento da comunicação na qual se ingerem.