Fonte: Jornal Correio Braziliense 20.06.2018 - Caderno opinião - PÁG. 09 -
0 professor Raul Marino Junior, titular de neurocirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, é estudioso da cultura e civilização do Japão, principalmente das artes em geral e, por meio das artes marciais, se empolgou com a “cabeça do japonês" e passou a se interessar pelas suas características. Já foi inúmeras vezes ao Japão.
Estudando o cérebro japonês, Raul Marino descobriu a importância da língua japonesa. Acabo de ler seu precioso livro O cérebro japonês, em que conta por que se interessou pelo tema e pela língua japonesa. Em suas idas ao Japão, participou de congressos e deu palestras como neurocirurgião. Menciona que seu amigo, o professor Tsunoda, da Universidade de Tóquio, tinha feito estudos sobre “por que o cérebro japonês difere tanto do cérebro de outros povos". Raul Marino relata que os japoneses, por terem estudado o kanjii, que é uma figura ou uma forma, possuem o lado direito do cérebro mais desenvolvido. O desenho, as artes, o zen, a música, o poema, a religião são reconhecidos pelo cérebro direito.
Já em linguagem do brasileiro e dos povos ocidentais, é tratada, preponderantemente, pelo cérebro esquerdo. Os ocidentais não utilizam o cérebro direito tanto quanto os japoneses. Quando, por acaso, um japonês perde as funções do cérebro direito (por meningite, derrame, AVC), deixa de reconhecer o kanjii, mas pode se comunicar por meio do alfabeto romano. Se perder as funções do cérebro esquerdo, perde a capacidade de se comunicar pelo alfabeto romano (hiragama, katakana, mas pode prosseguir se comunicando com o kanjii, clesde que o lado direito não tenha sido afetado).
Raul Marino conquistou o respeito e amizade do professor Kintomo Takakura, por meio do qual foi motivado a publicar o livro O cérebro japonês também em idioma japonês. No livro, relata que a moral e a ética são reconhecidas pelo lado direito do cérebro e que o dos japoneses é mais desenvolvido, daí poder-se admitir que está mais apto para a consciência moral e ética. Por seu lado, o maior desenvolvimento do cérebro direito produzido pelo k;m- jii e pelas artes influi na produção de poemas.
Marino demonstra que o cérebro direito trata da espiritualidade e não necessita de palavras para pensar. As coisas éticas são todas processadas por ele. Daí os japoneses serem mais religiosos e espirituais. O instigante livro cita passagem do Novo testamento: “No começo havia a palavra. A palavra estava junto com Deus. A palavra era Deus". E reflete: Nosso planeta não passa do tamanho de um grão de poeira. Deus está presente entre nós através da palavra. Pois não tem outra forma de se comunicar. Se compreendermos isso, o que acontece dentro do nosso cérebro é muito mais importante do que a própria palavra.
Deus não se comunica conosco através da palavra. Ele o faz por meio do silêncio. Quando você medita, você se sente dentro de um profundo silêncio. Isso é meditação. A palavra não passa de um suporte. Isso quer dizer que a palavra não desempenha o papel definitivo para sentirmos Deus. Ele já falou o que quer no Velho testamento e no Evangelho, através do filho Dele. Deus não possui língua, nem traqueia, nem laringe. Por isso ele se comunicou conosco através do seu filho, usando o verbo, que é a palavra em movimento. Vale a pena ler o livro do professor Raul Marino Jr.—O cérebro japonês.
Presidente da Academia Cristã de Letras e do Conselho Superior de Estudos Avançados (Consea/Fiesp)