Escrevo em outubro de 2017, no momento em que as “esquerdas”, com a mendacidade que lhes é inerente, festejam os cem anos da “Revolução Russa de 1917. ” Disse Aristóteles de Estagira que “os nomes derivam das coisas. ” E digo reiteradamente eu, Acacio Vaz de Lima Filho, que “a mentira é endêmica nas esquerdas. ”

O corolário disto é a total, completa e irrestrita falsificação da História. Falar em uma “Revolução Russa” em 1917, é tão equivocado e tão absurdo quanto falar de uma “Revolução Francesa de 1789. ” Usemos os nomes corretos para as coisas: Houve na França em 1789 uma “Revolução Burguesa”, e houve na Rússia, em 1917, uma “Revolução Comunista” (ou “Bolchevista”, se assim o preferirmos), sendo que, em ambos os casos, forças internacionais, materialistas e apátridas, impulsionaram os acontecimentos. Acontecimentos que, tanto na França como na Rússia, fizeram correr rios de sangue...

Entre nós, coube ao saudoso Heraldo Barbuy demonstrar, com argumentos irrespondíveis, que o Marxismo, doutrina subjacente à Revolução de 1917, é uma religião; paradoxalmente, uma “religião” sem Deus, materialista, e que promete aos homens um paraíso sobre a Terra. Razão assistia ao Professor Barbuy, de quem tive a honra de ser aluno, no “ConvívioSociedade Brasileira de Cultura”, em 1978: O primado do fator econômico, ponto de partida de todo o sistema de Marx, é um dogma, insuscetível de demonstração científica. A tudo o que foi dito por Heraldo Barbuy, acrescento que, ao regime implantado em 1917 na Rússia não faltou, sequer, uma contrafação do Santo Sepulcro de Jerusalém: Tratou-se da arqui-ridícula múmia de Lenin, na Praça Vermelha! ...

Não foi o “povo russo” quem fez a Revolução de 1917. E ela não foi feita, tampouco, pelos “trabalhadores russos”: Era uma firme convicção de Lenin, a de que somente revolucionários profissionais (como ele e sua mulher, como Stalin, Trotsky e outros) poderiam realizar a “redentora revolução do proletariado. ” E foram profissionais --- da Revolução e do Terror --- que mergulharam a Rússia num pesadelo destinado a durar aproximadamente setenta anos. O povo russo era --- e é ainda --- cristão ortodoxo e monarquista, sendo o título de “Czar Ortodoxo” o mais importante dos ostentados pelos imperadores do país. Moscou era a “Terceira Roma”, seguindo Roma e Constantinopla na missão de evangelizar os povos, levando a todos a palavra de Deus... ninguém melhor do que um grande russo, ninguém melhor do que Fiódor Dostoiévski, para dizer o que é o “Socialismo. ” Com efeito, ao descrever a personalidade de Aliócha, afirma o autor de “Crime E Castigo”: --- “Igualmente, se tivesse concluído que não há nem Deus nem imortalidade, terse-ia tornado imediatamente ateu e socialista (porque o socialismo não é apenas a questão operária ou do quarto estado, mas é sobretudo a questão do ateísmo, de sua encarnação contemporânea, a questão da tôrre de Babel, que se construiu sem Deus, não para atingir os céus da terra, mas para abaixar os céus até a terra). ” (Vide “Os Irmãos Karamázovi”, Aguilar, Volume IV, página 512).

Foi e é, o Comunismo, uma imensa impostura: Pregando a abolição final do Estado, criou o Estado mais autoritário do Mundo, a “União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. ” Tendo anunciado o fim das diferenças entre as classes sociais, criou a “Nomenklatura”, a odiosa burocracia partidária, genialmente denunciada por Millovan Djillas. Anunciou o “homem novo”, o “Homo Sovieticus”, e gerou rebanhos de seres aterrorizados, maltratados e incapazes de iniciativa.

Sim, o Comunismo foi e é uma enorme impostura, “uma peta”, como o diria o inimitável Monteiro Lobato. Mas o problema é que ele foi uma impostura cruenta, que ceifou muitíssimas vidas humanas. E esta não é uma assertiva retórica, mas embasada em fatos: A fome, os “Gulags”, os estabelecimentos psiquiátricos (!), as deportações de populações inteiras e os fuzilamentos em massa mataram milhões de russos e de não russos. Escreve David Remnick em “O Túmulo De Lênin – Os Últimos Dias Do Império Soviético”: --- “A Grande Mentira tem uma lógica interna infalível. Opositores são desmascarados como inimigos do Estado, a matança é apresentada como necessidade. Tudo é claro, tudo é expresso na linguagem do mito e do epíteto. ” (Vide op. cit., São Paulo, Cia. Das Letras, 2017, página 70).

O Comunismo, uma vez no poder na Rússia, foi particular --- e desnecessariamente --- cruel com a família imperial, com os membros da Dinastia dos Romanov (russos e cristãos, é bom lembrar...), que governara a “Santa Rússia” de 1613 em diante: O Czar Nicolau II, sua esposa, a Czarina Alexandra, suas quatro filhas, as Grã-Duquesas Olga, Tatiana, Maria e Anastácia, e ainda o único filho homem, o Czarevitch (Príncipe Herdeiro) Alexis, um rapazinho hemofílico, foram assassinados a tiros, golpes de baionetas e coronhadas, na Casa de Ipatiev, em Ekaterimburg, na Sibéria, na noite de 16 para 17 de Julho de 1918. Os cadáveres foram levados para a Mina dos Quatro irmãos, e desmembrados a faca e a serrote. Depois, incinerados com gasolina. Escreve Mohamed Essad-Bey: --- “Um verdadeiro conglomerado de sangue e de mentiras, de covardia e de mistério, se embusca nas palavras arrogantes de Voikov, Comissário do Soviete de Ekaterimburgo: ‘O mundo jamais descobrirá o que fizemos dêles!” (“Nicolau II, O Prisioneiro Da Púrpura”, Porto Alegre, Livraria do Globo, 1940, páginas 308 e 309).

A “profecia” do tal “Comissário do Povo” (?) não se realizou: Nicolau II e o seu filho Alexis foram canonizados pela Igreja Ortodoxa Russa. E, no local do massacre, após a ruína da União Soviética, foi erigida a “Catedral do Sangue Derramado”, celebrando a memória dos mártires Romanov. Isto sim, tem que ser comemorado. Mentiras e genocídio, não! ...