Fonte: Jornal SP Norte 20/12/2018

natal natal 6328cO que é a vida? A vida é a espera da morte. Somos corpo e Alma: matéria e não matéria; começo e fim terrestre. Nessa transição, a compreensão, os acertos e os erros, a busca e o alcance da felicidade, aqui e na eternidade, dependem de cada um de nós e de terceiros, com quem vivemos e convivemos. Alguns enxergam o sucesso na fortuna, outros na formação e desenvolvimento intelectual, há aqueles que procuram as religiões e os que veem, no equilíbrio, entre as hipóteses, o resultado satisfatório.

Steve Jobs morreu jovem e bilionário. Em suas últimas palavras afirmou ser visto, aos olhos dos outros, como um epítome do sucesso, mas que além do trabalho, tinha pouca alegria e que a riqueza era apenas um fato da vida, à qual estava acostumado. Deu-lhe tanto orgulho, mas empalidecia e ficava sem sentido, diante da morte iminente. Afirmava que os bens materiais podem ser encontrados, mas nunca a vida perdida. Lembra, nesse momento, há um livro que ainda tem de terminar a leitura Livro da Vida Saudável. Aconselha o uso racional dos recursos e a valorização do amor à família e aos amigos, a educação para a felicidade. Enfatiza que você é amado, quando nasce e quando morrer. No meio, você terá que gerenciar! Deixa claro que a fortuna conduz a uma visão parcial, muito restrita, do sentido da vida, no universo que o mundo oferece.

Norberto Bobbio, na introdução da obra de Gaetano Mosca, La Classe Política, nas páginas 7 e 8, alerta sobre reformas moderadas, com o principal propósito de contrapor, ao privilégio da riqueza, o mérito da cultura e fazer surgir a classe intelectual como nova protagonista entre as forças antagônicas da riqueza e do trabalho. Na medida em que coloca o intelectual, entre as forças opostas, parece inconciliável a fortuna e o trabalho, com o intelectual, que terá uma visão mais ampla do que ambos, na busca do sentido da vida.

Mauricio Domingues Perez no seu trabalho, Buscar o sentido na vida cotidiana, mostra-nos os valores reais de nossos atos, no dia a dia. Destaca o cotidiano como um palco, onde o ser humano exerce a fidelidade aos seus princípios, aos seus valores e às suas responsabilidades. Com essas pessoas a civilização pode contar para construir algo de valor, de duradouro. São as boas faxineiras, os bons enfermeiros, a boa caixa do supermercado, o bom empresário, a boa advogada que fazem a diferença no mundo. Não são as fantasias, veleidades e purpurinas do espetáculo com os holofotes e o dinheiro, voltados aos jogadores de futebol, artistas, músicos, etc. Somente na volta à grandeza da vida cotidiana, nós, simples mortais, poderemos encontrar o caminho de volta ao lar, onde somos verdadeiramente felizes.

Com estes ensinamentos, poderemos ter uma visão, através do intelecto, mais próxima do total, do universal, para projetar, com equilíbrio, o sentido da vida: viver com o desenvolvimento intelectual e espiritual, ou seja, viver bem em todos os sentidos, material e espiritual, porque “a gente leva da vida a vida que a gente leva”.

Como realizar o melhor, a felicidade, dando sentido à vida? Qual o caminho? Ele nos ensinou, com suas palavras, os meios para alcançar, agora e na vida eterna, o que desejamos. Basta amar a Deus sobre todas as coisas; não tomar o Seu Santo Nome em vão; guardar Domingos e festas de guarda; honrar o pai e a mãe; não matar; não pecar contra a castidade; não furtar; não levantar falso testemunho; não desejar a mulher do próximo; não cobiçar coisas alheias. Assim estarás amando o teu próximo como a ti mesmo. Se todos o fizeram da mesma forma, não haverá atritos, viverão em perfeita harmonia, sob a justiça divina que perdoa os arrependidos.

Voltemos a Maurício Dominguez Perez, citando Jung e André Malraux: “O pensamento da morte é o pensamento que nos faz homens”. Deveríamos comemorar o dia em que pela primeira vez pensamos nela, pois, marca o passo para a maturidade. O homem nasce quando, pela primeira vez, sussurra diante de um cadáver: por quê?

Assim como iniciamos repetimos: A vida é a espera da morte. Prossigamos, gerenciando, no caminho que Ele nos ensinou, da Paz e da Felicidade. Nada mais propício do que comemorar e agradecer no dia de Seu nascimento. É Natal.

Dircêo Torrecillas Ramos: Mestre, Doutor, Livre-Docente pela USP; Professor convidado PUC-PÓS; Membro efetivo da Comissão de Reforma Política da OAB-SP; Membro da Comissão Especial de Direitos à Educação e Informação da OAB-SP; Membro do Conselho Superior de Direito da Fecomercio; Membro da Academia Paulista de Letras Jurídicas (APLJ); Membro do Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP);International Political Science Association (IPSA); American Political Science Association (APSA) e Correspondente do Center for the Study of Federalism – Philadelphia USA.

Livros: Autoritarismo e Democracia, Remédios Constitucionais, O Controle de Constitucionalidade por Via de Ação, Federalismo Assimétrico e A Federalização das Novas Comunidades – A Questão da Soberania.