Hannah Arendt, com a sua habitual lucidez, ensina em “Entre O Passado E O Futuro” que a Igreja Católica, legatária de Roma, fez da morte e da ressurreição de Cristo uma nova “fundação” da “Urbs”, e que, assim como tudo o que se refere ao Povo do Lácio é incindível da tríade Religião-Autoridade-Tradição, tudo aquilo que diz respeito à Igreja fundada por Jesus Cristo (“Tu es Petrus!...”) é permeado pela aludida tríade. Aduz a discípula de Heidegger que Martinho Lutero, tendo rompido com a Autoridade (do Papa) equivocou-se, ao imaginar que poderia manter, na Igreja Reformada, qualquer tipo de unidade. E a prova cabal do asseverado, acrescento, é que inúmeras religiões protestantes, reformadas, surgiram --- e continuam a surgir todos os dias --- depois da rebelião do monge agostiniano.
A Igreja Católica foi e é romana inclusive no seu idioma oficial, o Latim, que lhe deu e lhe dá a universalidade. E muitos nomes presentes na Igreja, são essencialmente romanos. Um deles é este, de “Sumo Pontífice.” Ele deriva do “Pontifex Maximus” da Religião Nacional dos romanos. Como o nome está dizendo, era ele o maior de todos os sacerdotes romanos... interessante é a etimologia da palavra, da terceira declinação latina: “Pontifex, icis” é aquele que “faz a ponte, a ligação”, em matéria religiosa, entre a divindade e os homens!...
Tudo isto é do conhecimento do atual ocupante do trono de Pedro, Sua Santidade, o Papa Francisco. Observo que, como a Igreja é uma monarquia eletiva (morto o Papa, os Cardeais, num conclave, elegem o seu sucessor), ele deveria se fazer chamar de “Francisco I”... optou por um popular (ou populista) “Papa Francisco”, que não se coaduna com a majestade do cargo, mas que está em consonância com o fenômeno da dessacralização da Igreja, consequência previsível do “Concílio Ecumênico Vaticano II.”
Os títulos do Papa falam, alto e bom som, da importância transcendental do seu “munus”: Ele é o Bispo de Roma, o Primaz da Itália, o Patriarca do Ocidente, e o Vigário de Deus na Terra. Para ele olham, em busca de orientação, os muitos milhões de católicos espalhados pelo Orbe... não custa, nesta ordem de ideias, lembrar que o ocupante do trono de Pedro possui a chamada “graça de estado.” E o corolário desta graça é a responsabilidade que ela acarreta para quem a ostenta: Erros do Papa podem induzir todo o rebanho católico ao erro. E de conseguinte, o Papa é mais suscetível ao pecado, do que um fiel comum, como eu próprio.
Tudo isto vem a propósito da insólita e altamente infeliz audiência concedida recentemente por Sua Santidade ao Sr. Luiz Inácio da Silva, vulgo “Lula”, audiência que foi e está sendo fartamente explorada pela mídia de esquerda, que timbra em apresentar o Sr. da Silva como um “perseguido político”, “uma vítima de um golpe de direita” e um “alvo do Fascismo.”
O assunto do encontro entre o Pontífice Romano e o Sr. da Silva foi a desigualdade imperante nas sociedades hodiernas. Ninguém que seja honesto e tenha um caráter bem formado pode negar que nas sociedades do nosso tempo haja gritantes desigualdades. Neste sentido, a Sociedade Brasileira tem um perfil iníquo. E isto digo sem rebuços eu próprio, que tenho (e nunca o neguei) um histórico de militância na “direita”, pelo menos, desde 1968... sucede que uma das principais causas das grandes desigualdades sociais e econômicas --- e talvez a principal! --- é a corrupção, é o desvio dos dinheiros pertencentes aos suados contribuintes!... ora, o Sr. da Silva, recebido com extremo carinho pelo Chefe da Igreja, é um bandido, um marginal condenado exatamente pelos crimes... DE CORRUPÇÃO E LAVAGEM DE DINHEIRO!...
Ao abençoar um Réu de corrupção e lavagem de dinheiro, Sua Santidade, quer se queira quer não, coonestou --- ainda que implicitamente --- os delitos do Sr. da Silva!... e na atual Igreja Pós-Conciliar, mãe da teratologia denominada “Teologia da Libertação”, há uma franca simpatia pelas ditaduras comunistas do tipo da de Maduro e daquela que a terrorista Dilma Roussef pretendia implantar no Brasil.
Nos acontecimentos políticos costuma haver um vencedor e um perdedor. No caso ora enfocado, vencedor foi o Comunismo Internacional e Ateu, personificado pelo Sr. da Silva --- não um “criminoso político”, mas um “político criminoso” --- e derrotada foi a Igreja de Cristo, derrotados fomos nós, os católicos, no mínimo perplexos, quando não indignados, com tamanha inversão de valores.
*Acacio Vaz de Lima Filho, Livre-Docente em Direito Civil, área de História do Direito pela Faculdade de Direito de São Paulo, é Associado Efetivo e Ex-Conselheiro do Instituto dos Advogados de São Paulo, Sócio Titular do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, Acadêmico Perpétuo da Academia Paulista de Letras Jurídicas, e membro da União dos Juristas Católicos de São Paulo