Fonte: Estadão - Opinião - 1/12/2021 - Ruy Altenfelder e Cláudia Calais
O avanço científico e progresso social são fenômenos indissociáveis. Por toda a história, sociedades que conheçam valorizar a inovação são aquelas que construíram economias mais fortes e garantiram níveis maiores de bem-estar para suas populações.
Inversamente, nações que não acompanham o ritmo de desenvolvimento tecnológico se tornam excessivamente dependentes e necessidades para superar mazelas como a pobreza, a desigualdade e a degradação ambiental. A regra continua válida - basta uma rápida passada de olhos pela lista dos países com o melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) para comprovar a correlação entre desenvolvimento social e investimento em educação e ciência.
Sociedades que valorizam o conhecimento científico são também aquelas com as melhores chances de encontrar soluções para os grandes problemas globais que a humanidade enfrentará neste século. A pandemia de Covid-19 deu uma amostra disso. Graças à ciência, conseguimos mapear a evolução do vírus e desenvolver vacinas em tempo recorde, conforme quais devam drasticamente o número de mortes e possibilitar a perspectiva de controlarmos uma pandemia dentro de alguns meses.
Ainda assim, a pandemia de Covid-19 não será o maior problema enfrentado pelas atuais gerações. Em primeiro lugar, porque outras pandemias virão, para as quais, espera-se, a humanidade estará mais bem preparada. Mas, principalmente, porque já começamos a sentir os impactos das mudanças climáticas, este sim o principal desafio global das próximas décadas.
O investimento em torna-se, portanto, ainda mais decisivo, pois dele depende a superfície da espécie humana.
Para frear o desequilíbrio ambiental, precisaremos de combustíveis menos poluentes, de novas técnicas agrícolas, de novas fontes de energia. Da mesma forma, as ciências humanas serão convocadas para desenvolver arranjos urbanos, economia e sociais mais sustentáveis. Estamos na antessala de um completo rearranjo das cadeias produtivas globais e do próprio modo de vida das comunidades humanas, que só serão superados com base em novos conhecimentos e novas tecnologias.
Investir em ciência não é um gasto, mas uma aposta no futuro. No médio e longo prazos, não há aplicação que traga tanto retorno, inclusive financeiro, quanto a valorização do trabalho dos cientistas. Tecnologias inovadoras podem se tornar negócios bilionários, além de serem decisivas, como vimos, para a construção de um presente sustentável para toda a humanidade.
Essa foi a visão de mundo que levou a Bunge a criar 66 anos atrás a Fundação Bunge, valorizando pessoas e seus conhecimentos, e o Prêmio Fundação Bunge para homenagear e incentivar contribuições notáveis à ciência brasileira. O prêmio chega à sua 65.ª edição, mais relevante do que nunca, como demonstram os trabalhos contemplados em 2021.
Na área de Ciências Biológicas, Ecológicas e da Saúde foram selecionados trabalhos relacionados à prevenção de doenças infecciosas. O contemplado na categoria “Vida e Obra” foi o professor Ricardo Gazzinelli, presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia, docente da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e cofundador do Centro de Tecnologia de Vacinas da UFMG-Fiocruz. Já na categoria “Juventude”, o contemplado por Tiago Mendes, professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade Federal de Viçosa, um jovem pesquisador que vem se destacando por seus trabalhos sobre controle de enfermidades.
Foram contemplados também profissionais das Ciências Agrárias. Em “Vida e Obra”, o ganhador foi o engenheiro agrícola Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV). O prêmio “Juventude” ficou com Fabiani Bender, pós-doutora em Ciência pela Esalq-USP e membro do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Ambos desenvolvem pesquisas relacionadas aos impactos das mudanças climáticas na produção de alimentos.
Profissionais como esses buscam soluções para alguns dos maiores desafios da nossa época. É preciso valorizar seu trabalho, especialmente quando se tem em vista que o Brasil estudar cortar o orçamento público dedicado à pesquisa científica, colocando-se na contramão das nações desenvolvidas. Diante de problemáticas ambientais, sociais e sanitários cada vez mais complexa, infelizmente ainda temos dificuldades para enxergar o trabalho do cientista como essencial ao desenvolvimento nacional e até nossas tecnologias.
Investir em ciência é garantir que estaremos à altura dos grandes desafios que este século nos reserva. Quanto antes aprendermos essa lição, mais chances teremos de construir um futuro próspero e sustentável para todos os brasileiros.
Ruy Altenfelder é Curador dos Prêmios Fundação Bungue, Presidente do Conselho Superior de Estudos avançados (CONSEA) e Presidente da Academia Paulista de Letras Jurídicas (APLJ). Cláudia Calais é Diretora executiva da Fundação BUNGUE.