Ontem, dia 6 de fevereiro de 2018, após comunicações do Chanceler, Ives Gandra da Silva Martins e as comunicações do Presidente da APLJ, Ruy Martins Altendelder Silva, foi empossada na Academia Paulista de Letras Jurídicas, Angela Vidal Gandra da Silva Martins, que passou a ocupar a cadeira de Nº 46, tendo como patrono Prudente José de Morais e Barros.
Angela sucedeu a acadêmica Regina Todelo Damião, que faleceu no dia 1 de setembro do ano passado, 2017.
A cerimônia de posse aconteceu na primeira reunião mensal de 2018, com a presença de Acadêmicos, amigos e da Senhora Ruth Gandra, mãe de Angela, esposa do Dr. Ives Gandra.
A saudação foi proferida pele Acadêmica Ivette Senise Ferreira:
"Nesta oportunidade em que a Academia Paulista de Letras Jurídicas acolhe em seu quadro mais um membro efetivo, na pessoa de ANGELA VIDAL GANDRA DA SILVA MARTINS, é uma honra e uma enorme satisfação estar aqui para saudá-la e dar um testemunho do acerto de sua escolha para ocupar a cadeira número 46 deste Sodalício, na vaga da saudosa Professora Regina Toledo Damião, que participou da fundação desta instituição.
E esta tarefa desempenho com prazer, por tríplice razão: primeiramente por estar acolhendo aqui, em substituição a uma valorosa mulher, outra mulher , que por seus méritos deverá preencher com êxito e competência a lacuna deixada por uma combativa educadora, especialista em linguagem jurídica, sendo a nova acadêmica também exímia nesse setor, com o viés filosófico e antropológico que é de sua predileção. Com certeza, o reduzido grupo feminino que compõe esta Academia, denominado “as confreiras”, ganhou um reforço significativo para a sua atuação, na contribuição que procuram oferecer com as características de sua especial sensibilidade e percepção.
Por outro lado, é justo destacar aqui a importante linhagem da nova acadêmica, que faz jus ao brilho e preparo intelectual dos outros membros de sua família, todos eles destacadas figuras no nosso universo cultural e artístico. Filha do nosso Chanceler, Ives Gandra da Silva Martins, jurista–poeta que dispensa notoriamente maiores referências nesta alocução, e de sua eterna e celebrada musa, Ruth, ambos meus contemporâneos na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, Angela certamente herdou os gens especiais que circulam na sua família, em que predomina a inclinação para as causas do Direito e da Justiça, além do pendor musical. Venceu ela todos os obstáculos que permeiam os caminhos da aquisição de uma substancial experiência jurídica que, aliada ao saber conquistado na área acadêmica, em que até hoje atua, permitiu-lhe uma visão consistente e inovadora que lhe facilita ingressar em várias sendas para a discussão dos temas mais relevantes da vida social e jurídica.
Esse vigor intelectual tem refinada origem, pois não menos notável foi a figura de seu avô paterno, José da Silva Martins, que conheci em circunstância bastante especial, que me permito aqui relatar: Pouco tempo depois de assumir a direção da Faculdade de Direito da USP, no já longínquo ano de 1998, me foi anunciada a visita de uma pessoa que desejava cumprimentar-me em meu gabinete, e que eu imediatamente recebi. Apresentou-se então ali um senhor, em pleno vigor dos seus declarados cem anos de idade, dizendo-me ser José da Silva Martins, pai do jurista Ives Gandra da Silva Martins, e que sabedor , por uma entrevista que assistira e gravara, da eleição da primeira mulher para a direção daquela Escola, fizera questão de vir conhecê-la e cumprimentá-la pessoalmente por seu feito...
Emocionou-me o fato e a conversa que tivemos nesse encontro, tendo ele na ocasião me ofertado, com memorável dedicatória, o livro que naquele ano publicara em 4º edição, intitulado “Sabedoria e Felicidade”, uma coletânea de seus textos e de pensamentos de grandes figuras da filosofia, da religião e das artes, demonstrando uma cultura enciclopédica, uma sensibilidade e um discernimento que aperfeiçoou nos seus cem anos de convivência com a filosofia e com os expoentes da cultura universal, que aliás procurou depois transmitir, com severa disciplina, a toda a sua prole. Não é a toa, pois, o pendor para a filosofia demonstrado por sua neta Angela em seus escritos...
O terceiro motivo de minha enorme satisfação em saudá-la no seu ingresso nesta instituição, é por ter sido ela minha aluna no Curso de Direito da Faculdade do Largo de São Francisco, sendo o maior orgulho de um professor ver o aluno suplantando o mestre, o que nesse reencontro, após tantos caminhos diferentes trilhados, nos coloca em uníssono para a defesa comum dos nossos princípios, dos nossos valores, e das iniciativas que esta Academia pode adotar ou sugerir para a solução de problemas controversos e importantes questões cujo debate promove. E o campo em que a nova acadêmica desenvolve as suas reflexões e desempenha as suas atividades é bastante útil senão necessário para tal desiderato
Angela Gandra da Silva Martins percorreu o calvário intelectual de todo aquele que almeja as láureas acadêmicas e o aperfeiçoamento dos seus conhecimentos, que é sabidamente repleto de obstáculos e sacrifícios.
Bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo, Mestre e Doutora em Filosofia do Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a sua especialização incluiu ainda, além do domínio de várias línguas, uma experiência notável como Pesquisadora em Antropologia Filosófico-Jurídica na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e outra no Advanced Management Program na Universidade de Navarra, na Espanha.
No Brasil, adicionou à atividade advocatícia, que ainda exerce, as atividades docentes em vários cursos da matéria de sua preferência, que é a Antropologia Filosófica, sem descuidar da participação em Encontros, Seminários e Congressos relativos ao ramo de sua especialidade ou a questões mais gerais do Direito, da Economia ou da Moral, tendo publicado inúmeros trabalhos, artigos e textos que expõem o seu pensamento e já constituem uma sólida bibliografia.
Sua última publicação, em 2017, foi uma obra intitulada “Antropologia Filosófica e Direito – Um confronto entre Lon Fuller e Richard Posner”, com prefácio do Professor Paulo Barros Carvalho, editado pela Noeses. Esse livro é o resultado de estudos e reflexões desenvolvidos anteriormente no seu Mestrado e no seu Doutorado, em que amadurece o seu pensamento constante da sua Dissertação , em 2012, no trabalho intitulado “A moralidade do Direito como condição de Liberdade em Lon Fuller” e, depois, em 2016, na sua Tese de Doutorado sobre “Antropologia e Direito: um confronto entre o personalismo de Lon Fuller e o economicismo de Richard Poster”
Com foco nas discussões sobre a finalidade do Direito e a importância da alteridade nas relações sociais, fundamentada na liberdade e responsabilidade como bases da vida social, política e econômica, a autora concentra suas reflexões nos conceitos básicos da atividade jurídica, demonstrando uma especial inclinação pela Filosofia do Direito e, particularmente, pela Antropologia Filosófica, o que certamente irá consistir em valiosa contribuição nos debates que travamos neste Sodalício, embora seja comum a assertiva de que às mulheres não agrada a Filosofia, não se conhecendo nenhuma representante ilustre desse ramo do conhecimento na Antiguidade e na história das nações.
Mas os tempos agora são outros!
Por isso, Angela Vidal Gandra da Silva Martins, seja bem vinda ao nosso seio, e compartilhe conosco o seu amor à sabedoria, os seus conhecimentos e a sua disposição para transformar a humanidade!"
"Breves Palavras Proferidas durante a posse na APLJ - Angela Vidal Gandra Martins
Excelentíssimos e caríssimo Presidente Dr. Ruy Altenfelder, caríssimo Dr. Bertelli, queridíssima Professora Dra. Ivete Senise, amados pai, irmão, confrades! mãe querida, André, irmão de coração, sócias confreiras! Excelentíssimos confrades e confreiras, queridos amigos presentes.
Agradeço imensamente a cada um o ingresso nesta Academia, onde tenho já compartilhado tantas preocupações em busca de soluções para o futuro do país. Aprendi muito nos debates em que tomei parte e agora como membro espero também contribuir com as luzes da Filosofia do Direito.
A cadeira número 46 que me coube é também sede de muitas lutas que desejo continuar empreendendo. Com muita honra, do meu patrono, o Presidente Prudente de Morais, mutatis mutandis, tomo as lições de uma luta por um Estado Democrático de Direito e a luta pelos direitos humanos, em sua época representada pela República e pelo abolicionismo, bem como por seus desejos de pacificação e sua ampla visão de uma convivência internacional amistosa e respeitosa, tão necessária, especialmente em uma era global.
Espero também seguir os passos da Professora Dra. Regina Toledo Damião a quem sucedo, no que se refere à preocupação com a formação acadêmica, buscando soluções para melhorar os currículos para formar alunos que possam ser efetivamente instrumentos de justiça, já que também organizou a Turma do Justos, revista de Direitos Humanos. Como comenta o autor no qual me especializei, Lon Fuller, “injustiças são feitos não com os punhos, mas com os cotovelos”.
Por fim, espero também me espelhar em minha querida professora das Arcadas, a acadêmica Ivete Senise, com quem não só aprendi profundas lições de Direito, mas também de elegância e classe! Como a admirávamos em nosso segundo ano de Faculdade! Era um paradigma para as futuras operadoras do Direito. Um exemplo do correto “bom feminismo”.
De minha parte, ao tomar posse na Academia Paulista de Letras Jurídicas, renovo o propósito formulado ao retornar à vida acadêmica: nulla dies sine linea. De fato, todos os dias, ao chegar ao escritório, depois de um pouco de estudo, escrevo algumas linhas para oportuna publicação, sobre algum tema que possa estimular a reflexão filosófico-jurídica, rumo a consecução de uma ordem social justa. Pertencer a esta Academia, ao lado de tão ilustres confrades e confreiras, só fortalece esse compromisso, que espero viver, inspirada pelo exemplo de meu pai e com a ajuda de minha mãe, exímia revisora de textos, a quem, de fato, meu pai deve também esse apoio!
Muito Obrigada a cada um dos presentes!"