(Correio Braziliense)

O Brasil atravessa uma das mais graves crises de sua história: política, econômica e social. O brasileiro não está confiante no país. Os jovens têm manifestado insatisfações e, além de promover os chamados “movimentos de rua”, causando problemas para a mobilidade urbana, têm sinalizado vontade de viver e trabalhar em outros países. Apesar dos sérios problemas conjunturais, não há razão para tamanho grau de descrédito. Vivemos num território abençoado, riquezas naturais em abundância. Povo criativo, de boa índole, trabalhador, paciente e crente em Deus.

Vivemos num regime democrático. Com poderes constituídos funcionando. Apesar dos desmandos, da falta de ética na política, da corrupção apurada nos mensalões e no Lava-Jato, os responsáveis pelos desmandos têm sido identificados e punidos nos termos da legislação. A crise que o Brasil atravessa precisa ser atacada pelo entendimento dos cidadãos; com propostas concretas. Como aconteceu, com sucesso, na Espanha, quando o povo construiu o Pacto de Moncloa, discutido durante anos e que permitiu o crescimento sustentado da nação espanhola. As reformas inadiáveis que necessitamos devem passar pela mesa do entendimento nacional.

As organizações empresariais e sindicais, as entidades representativas de engenheiros, advogados, médicos, profissionais autônomos em geral, estudantes, a respeitável classe de agentes culturais, as valorosas mulheres brasileiras, devem se concentrar em discutir e propor saídas para sairmos da crise. O governo deve aproveitar o momento e corrigir as falhas que impediram a eficácia do chamado Conselhão: O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, criado em 2003, tentou aproximar o governo da sociedade.

Era uma espécie de assembleia de pessoas convidadas pela chefe do executivo para debater políticas públicas. A diversidade de temas tratados e a ausência de prioridades reduziu o aspecto prático do organismo a um mero caderno de sugestões. Precisamos enfrentar as causas das crises com inteligência, equilíbrio, coragem e determinação. Vou rememorar fato que testemunhei quando o saudoso professor Miguel Reale comemorou o 81º aniversário. Confiante, jovial, alegre, o mestre, ao soprar as velinhas do bolo de aniversário, preparado com carinho por sua querida esposa, d. Nuce, agradeceu aos presentes contando um fato emocionante:

Há muitos anos, decidiu plantar no seu Sítio São Miguel, em Diadema, mudas de macieiras. Preparou o terreno, corrigiu a acidez de solo, adubou-o adequadamente e plantou as macieiras, escorando-as com estacas de cedro, preparadas artesanalmente. Decorrido o tempo regular, as macieiras deram sua primeira e única produção: maçãs pequenas, baixa produtividade. O professor Miguel Reale, abandonou-as, utilizando o terreno para outras culturas. Entretanto, uma das lascas de cedro foi esquecida no local. Aclimatada e confiante no solo em que foi concebida, a estaca se enraizou, fortaleceu-se, cresceu, frutificou e se tornou uma das mais bonitas árvores do Sítio São Miguel. O mestre batizou-a de AMIZADE.

Todos nós devemos nos transformar nas estacas de cedro do Sítio São Miguel. Acreditar no solo pátrio, trabalhar, investir, enfrentar e vencer as dificuldades, tornando-nos, no futuro, em símbolos de confiança no Brasil. E tudo num clima de entendimento, de amizade. Vamos ajudar a retomada do desenvolvimento e a viabilização de reformas que abram ao país o caminho da modernização com justiça social. Com confiança e amizade.