Fonte: Correio Braziliense - 16/1/2019
“Um político pensa na próxima eleição; um estadista, na próxima geração” James Clarke
Os princípios éticos são fundamentos importantes para nortear as ações das pessoas num país que se pretenda, verdadeiramente, democrático e justo. Não se trata de uma sociedade utópica, como a construída por Thomas Morus, mas de práticas perceptíveis e necessárias, porém esquecidas nos dias atuais. O Brasil 2019 precisa de estadistas que pensem nas próximas gerações e assumam posições claras e éticas em prol da reforma da Previdência.
O Regime Geral de Previdência Social, destinado aos trabalhadores do chamado “andar de baixo” — empresas privadas — com mais de 100 milhões de participantes (70,1 milhões de contribuintes e 30,5 milhões de beneficiários) gerou um deficit previdenciário de R$ 149,7 bilhões.
Em 2016, o Regime Próprio da Previdência Social destinado aos trabalhadores da “primeira classe” (servidores públicos) — mas com apenas 9,9 milhões de participantes (6,3 milhões de contribuintes e 3,6 milhões de beneficiários) gerou um deficit previdenciário de R$ 155,7 bilhões (deficit per capita por participante de R$15.727,27) contra R$1.512,27 do setor privado.
Será que não bastaria olhar o futuro do país e assumir postura de estadistas, olhando para as próximas gerações? Ao acompanhar diariamente o noticiário, não são raras as vezes que o leitor se depara com relatos de denúncias de corrupção, desmandos e abusos de autoridades em diferentes níveis e de mau uso do dinheiro público — ações essas que remetem claramente a questões de desvios éticos e morais. Um dos antídotos mais eficazes para essa ameaça letal à liberdade, à democracia e à civilidade é a educação.Tanto aquela que aprendemos dentro de casa, desde os primeiros anos de vida, com os pais, quanto — e principalmente — aquela transmitida na escola por mestres na melhor acepção da palavra.
Quando se incutem na criança e no jovem tais conceitos, eles os seguirão na idade adulta — pautando desde os pequenos atos do dia a dia até os grandes momentos do exercício da cidadania. A ética está acima da moralidade; é, na verdade, um valor inerente aos direitos e deveres dos cidadãos. Mas não um valor que nasce por geração espontânea; ao contrário, resulta de decisão individual refletida e seguida de uma prática vigilante e diuturna. Aristóteles, com toda sua sabedoria, dizia na Antiguidade clássica que “nenhuma das virtudes morais surge em nós por natureza; adquirimo-las por exercício”. Não é descabido associar os problemas na educação à crescente onda de violência que marca as ruas, que vem invadindo os muros escolares e estimula a formação das verdadeiras gangues de bairro ou de torcidas organizadas. Os frutos? Ações e ilícitos que configuram desrespeito contínuo à lei e à ordem jurídica, denotando a rarefação dos parâmetros de convivência civilizada em sociedade.
Os professores têm papel fundamental na formação dessa juventude que dirigirá a economia e conduzirá o desenvolvimento do país nos próximos anos. Com exemplo e coragem, devem mostrar a seus alunos a importância da aceitação de limites, dos valores — solidariedade, compromisso, honestidade, estudo, trabalho — e do respeito às normas e aos princípios que deles decorrem. Isso vale tanto para o relacionamento entre chefia e subordinados no mundo corporativo quanto para professores e alunos em sala de aula, ou pais e filhos na convivência familiar.
E o professor — esse profissional pouco valorizado pela sociedade, negligenciado pelo poder público e desrespeitado por pais e alunos, sem formação adequada e com remuneração quase tão baixa quanto a sua autoestima— é um pilar importante para propagar esses conceitos.
Por tudo isso, merece ter o seu papel resgatado por todos e cada um em particular — afinal, esse processo se enquadra nos casos em que, pelo valor da emulação, o total poderá ser maior do que a soma das partes. A Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) estabelece que a escola deve ser um local de formação de cidadãos e difusão de valores que inspirem cidadania e ética. Mas para que ela realize missão de formadora de novas gerações é necessário que o governo e sociedade também a consagrem como espaço da ética, resgatando a autoridade dos mestres e colaborando para o aprimoramento de suas relações com a comunidade, os pais e os alunos. Até porque disseminar os princípios éticos na escola é, antes de tudo, garantir uma sociedade mais justa e mais humana para as novas gerações. O ano-novo chegou! Que os eleitos pautem suas ações pelo respeito aos princípios éticos e morais.