Dizem que esta coisa de amor à primeira vista não existe, que é história para enganar os trouxas. Eis mais uma destas. agostinho toffoli tavolaro 2 03306

Era o sábado de aleluia , abril de 1953.

Ali, na esquina-da Barão deJaguára e General Osório, ficava a sede do Clube Semanal de Cultura Artístican na sobreloja em cima do Café do Povo e da Sorveteria Sonia.

Noites de baile ou de sarau dançante, as moças ficavam la em cima, na sacada, olhando para baixo, na calçada oposta, onde ficavam os moços que provavelmente subiriam para dançar.

Ali, um rapaz, olhando para a sacada viu uma loirinha e, virando-se para seu amigo Julinho Orfali, lhe disse : "Está vendo aquela loirinha estrábica lá, em cima? Vou subir e dançar com ela". Começando a música, subiram a escada o rapaz a viu, a mesma loirinha de olhos grandes e sonhadores que não era estrábica no salão ao lado das senhoras que fiscalizavam suas filhas, no caso D. Nilda e suas amigas Cecília e Nair, que acompanhavam a loirinha e: uma outra mocinha.

Cheio de coragem, morrendo de medo de "levar uma tábua", que era o nome que se dava à recusa de uma dança por parte das moças, tirou a loirinha para dançar, naquele tempo em que se dançava de braço dado e em que a moça colocava o braço esquerdo de través, para evitar a aproximação indecorosa que os costumes de então não permitiam.

Dançaram ao som da orquestra de Julinho Bocaletti, ao tempo em que. predominavam o bolero e o fox, música romântica dentre elas uma canção americana, "You Belong to Me" que veio a lhes marcar a vida. Julinho dançou com a Luizinha, prima da loirinha, que tinha vindo de São Paulo para passar a Semana Santa com seus tios. Desembaraçado e galante, ao fim do baile combinou com ela encontrarem-se no dia seguinte, domingo, quando então havia matine nos cinemas , marcando o encontro no Jardim Carlos Gomes para irem ao-Cine Voga. Disse então ao seu amigo que queria tê-lo junto no encontro, pois a mocinha deveria acompanhar a prima. Assim, foram ao cinema, onde comeram a famosa pipoca com manteiga do Voga.

Dando-se bem a loirinha e o rapaz, este ficou de encontra-la no dia seguinte, à tarde, na saída do Culto à Ciência, onde ela com 12 anos de idade cursava a 2ª. serie do ginasial, enquanto aos 15 anos aluno do científico no Ateneu Paulista pela manhã. Encontrarâm-se naquela tarde e em todas as outras, quando ele a pediu em namoro.

Morando ela na rua Frei Antonio de Pádua, ao saírem do colégio caminhavam pela Av. Barão de Itapura, subindo então pela rua Candido Gomide, até a esquina com a Frei Antonio.

Namoro naqueles tempos , em que ela sobraçava: seus livros, iam conversando sem sequer se darem as mãos, até ele, com seus braços longos, oferecer-se para carregar os livros e cademos.

No mês seguinte Maio, deram-se as mãos pela primeira vez e ao pararem na Candido Gomide, que ao tempo era cortada por uma porteira de ferro, para a passagem do trem da Mogiana que ia para a Estação Guanabara, ele, morrendo de medo, deu-lhe um tímido e respeitoso beijinho na testa. Naqueles dias os colegas rapaz no colégio, Azis Calil, Armando Pacheco, Wolfgang Wiendl e outros sabendo do namoro com uma linda menina, um brotinho em flor, como se dizia, dada a diferença de idade diziam que ele a " havia pego para criar”.

Já no dia 7 de maio, dia do aniversário do moço, não puderam encontra-se, pois naquele dia não houve aula. Dias depois ao saber ela do seu aniversário presenteou-o com um disco da música que havia marcado o seu encontro, disco de 78. rotações, com a canção "You Belong to Me”, cantada por Jo Stafford e orquestra de Paulo Weston, traduzido seu título para no idioma como "Você me pertence” marcou-lhes a vida, pois seu tema era o amor eterno, a partir dos primeiros versos, em inglês "See the pyramides along the Nile, watch the Sunrise-in a tropic isle, but remember till you home again , YOU BELONG TO ME” em português “Veja as pirâmides ao longo do Nilo, veja o sol nascer numa ilha tropical, mas até voltar à nossa casa, VOCÊ PERTENCE A MIM".

Naquele MAIO, aos 16 anos recém-completados, pediu a ela, ainda com os 13 anos, que se casasse com ele, afirmando que o casamento somente poderia acontecer após ele terminar o científico, cursar a faculdade de direito e ano após, pois então teria como sustentar o casal.

Realmente, formando-se em Direito, na PUC Campinas na Turma Clóvis Bevilaqua (1959) já em maio do ano seguinte (1960) , seu pai Danilo e sua mãe Cida solenemente pediram ao Sr. Antonio e Da. Nilda, a mão de sua filha para casar-se com o moço, ficando noivos, pois era costume que o noivado durasse um ano.

No dia 14 de Maio de 1961, casaram -se, na Igreja do Botafogo, celebrado pelo Monsenhor Bageio, ocorrendo que um dos padrinhos do noivo , seu amigo Toninho Azambuja, ao entregar - lhe as alianças deixou-as cair tilintando no chão de mármore do altar, causando riso em todos os convidados.

Casados , tiveram 3 filhos , Adriana, Cláudia e Fábio, todos os partos assistidos pelo D. José Alfio Piason e pelo jovem Dr. Celso Arruda, os dois primeiros . na Maternidade de Campinas, na Av. Andrade Neves esquina da Barão de Itapura, onde depois foi construída a estação rodoviária, demolida para dar lugar a um hotel ainda em construção nos dias de hoje. Casados, as filhas Adriana com Mauro Salek, Cláudia com Fábio Trevisan e ofilho Fábio com Sonia ... deram aos felizes avós as netas Tatiana, Isabella, Mariana e Gabriella.

Na sua vida em comum vê o casal que a letra daquela primeira canção tornou-se realidade, pois o rapaz, já agora advogado, dedicou-se ao direito internacional, pela chegada a Campinas nas décadas seguintes das industrias. multinacionais, atendia a clientes e participava de organizações internacionais de direito vária vezes por ano em inúmeros países em todos os continentes. Em mente tinham eles sempre, a lembrança da canção , viaje pelo mundo, mas você me pertence (YOU BELONG TO ME).

Amor à primeira vista, existe até hoje, quando os dois esperam, no próximo ano aproximarem-se dos SETENTA anos de namóro, noivado e casamento, rogando a Deus que lhes de a eles e a todos a luz que os iluminou.

“Ah! SIM. O casal somos Ilze e Agostinho. Juntos escrevemos essas linhas e afirmamos que o amor à primeira vista existe e perdura, sem nunca perecer. Lize Padovani Tavolaro e Agostinho Toffoli Tavolaro.

Lize Padovani Tavolaro e Agostinho Toffoli Tavolaro são membros da Academia Campineira de Letras