O mundo pós-pandemia será cada vez mais digital. A luta contra o coronavírus obrigou à tomada de providências drásticas, dentre as quais o confinamento da maioria das pessoas. Verdadeiro pânico se estabeleceu e nos primeiros meses observou-se o distanciamento social e um severo capítulo de medidas de higiene.
Aos poucos, o Brasil vai se acostumando com as seiscentas mortes diárias e mais de vinte mil novas contaminações. Isso significa que a epidemia continua e que teremos de conviver com ela nos próximos anos. Sem prejuízo da vinda de outras novas, associadas ao maltrato da natureza e à extinção da biodiversidade em todo o planeta.
Tal cenário impõe a absorção plena da cultura digital. Ela mostrou-se capaz de minorar os males decorrentes da peste. As aulas continuaram e a transmissão de conteúdo mostrou-se a tábua de salvação para milhões de estudantes. O contato virtual com familiares foi uma constante. As lives mostraram-se instrumento eficiente e idôneo de comunicação grupal. Ouvi de amigos conferencistas que nunca tiveram tanto auditório como nesses tempos.
Bancas para a arguição de dissertações e teses puderam funcionar. As compras online já eram exitosas e mostraram-se cada vez mais eficazes, assim como a movimentação financeira pelos bancos e demais instituições.
Isso evidencia a urgência de políticas sérias de inclusão digital de todos os brasileiros. Os millenials já dominam com desenvoltura as modernas tecnologias e descobrem funcionalidades de forma espontânea, desnecessária qualquer formação técnica específica. Eles podem ser de imensa serventia para treinar os adultos e aqueles da geração analógica, às vezes perdidos na parafernália dos mobiles.
Levar a inclusão digital a sério, como política de Estado, mas não condicionada a iniciativas de governo, é missão que se atribui a todo brasileiro lúcido e capaz de enxergar com acuidade a situação em que a Terra se encontra.
Todas as maiores empresas globais integram esse universo das tecnologias da comunicação e informação. O capital intangível da informação mostrou-se hábil a satisfazer a ânsia capitalista por amealhar fortunas e por dominar uma sociedade mundial cosmopolita, que aspira ter acesso ao que é mais atual e mais contemporâneo em termos de mercado.
Uma nação com desenvolvimento assimétrico, na verdade periférica em grande parte e emergente – talvez a mais atrasada dentre as BRICs – precisa imergir nessa cruzada de treinamento da cidadania, com empenho, garra e audácia.
A Quarta Revolução Industrial mudou profundamente a sociedade e os países que ficarem na rabeira dificilmente alcançarão aquelas que tomaram a dianteira. Não há progresso per saltum, o que significa a necessidade de percorrer todas as etapas do processo, mas em ritmo bastante acelerado.
Os municípios, entidades da Federação brasileira, precisam ser inteligentes e tentar suprir a ausência de planejamento que caracterizou o desordenado crescimento e a insensata conurbação que caracteriza grande parte do território brasileiro. As escolas não podem se resignar a transmitir conhecimento convencional, mas têm de entrar para valer no mundo digital. Ensinar os alunos a extrair consequências úteis para o uso híbrido de múltiplas tecnologias. Aprender programação. Criar aplicativos para a resolução de problemas aparentemente insolúveis.
Com a desenvoltura que os millenials têm, eles poderão se converter em tutores dos adultos. Nunca mais se poderá dispensar esse uso benéfico da internet, que multiplicou a produtividade de um setor emperrado e constantemente acusado de lentidão, que é o Judiciário. Os bancos e instituições financeiras já não dependem de comparecimento de seus clientes a sedes que serão drasticamente reduzidas e o PIX está aí, para facilitar ainda mais as coisas.
Tudo pode ser feito pelas redes sociais, que precisam ser instrumentos civilizatórios e abandonar esse desvio nefasto da produção de fake News e de disseminação de discórdia, ira, ódio e violência verbal.
Não se espere que governo seja o condutor de um processo que deve inspirar empresários e empresas, ONGs, Universidade, educadores e escolas, organizações, clubes, associações, entidades e pessoas físicas providas de empenho em transformar – para melhor – este sofrido Brasil.
Talvez chegue um dia em que até a vetusta Justiça venha a se comover e promova eleições pela internet, poupando recursos escassos, tempo e a obrigação de trabalho escravo requisitado à cidadania, assim como o uso de dependências privadas, numa grande e perigosa aglomeração de pessoas em plena crise da Covid19.
Já possuímos toda a estrutura para colher a manifestação da cidadania pelos seus mobiles. Com grande ganho em eficiência e rapidez, sem a invocação falaciosa de que uma eleição digital é mais perigosa do que a eleição convencional.
Inclusão digital movimenta a economia e habilita as pessoas ao exercício pleno de uma cidadania que foi prometida, mas que não virá como dádiva estatal, senão como conquista de quem quer participar dos destinos de sua Pátria e não ser massa de manobra para interesses nem sempre claros, nem sempre os mais legítimos.